Enéada I, 2 (19) — Da Virtude (capítulo 5)

Tradução da versão inglesa de MacKenna (abaixo)

5. Assim chegamos ao escopo da purificação: a qual compreendida, a natureza da Semelhança se torna clara. A Semelhança a que Princípio? Identidade com que Deus?

A questão é substancialmente esta: até onde a purificação expurga as duas ordens de paixão — raiva, desejo e afins, com tristeza e sua espécia — e em que grau de desengajamento do corpo é possível.

Desengajamento significa simplesmente que a alma retira-se para seu próprio lugar.

Se manterá a si mesma acima de todas as paixões e afecções. Prazeres necessários e toda a atividade dos sentidos empregará somente como remédio e alívio caso seu trabalho seja impedido. A dor ela pode combater, mas, falhando a cura, a suportará dócil e facilmente pela recusa a assenti-la. Toda ação apaixonada verificará: a supressão será completa se assim for possível, mas no pior dos casos a Alma nunca se incendiará mas manterá o involuntário e descontrolado fora de seus domínios e raros e fracos nessa condição. A Alma nada tem a sofrer, embora sem dúvida o involuntário tem algum poder aqui também: o medo deve cessar, exceto até quanto é puramente supervisório. Que desejo possa haver nunca pode ser pelo vil; mesmo o alimento e a bebida necessária a restauração residirá fora da atenção da Alma, e não menos o apetite sexual: ou se tal desejo deve haver, se voltará para as reais necessidades da natureza e estar inteiramente sob controle; ou se qualquer movimento descontrolado tem lugar, ele não alcançará além da imaginação, sendo nada mais que um capricho passageiro.

A Alma ela mesma estará inviolavelmente livre e estará trabalhando para estabelecer a parte irracional da natureza acima de todo ataque, ou se assim não possa ser, então pelo menos preservá-la de violento assalto, de maneira que qualquer ferimento que sofra possa ser leve e ser curado de pronto pela virtude da presença da Alma, assim como um homem vivendo próximo a um Sábio se beneficiará pela vizinhança, seja em se tornando sábio e bom ele mesmo ou, por vergonha, nunca se aventurando qualquer ato o qual a nobre mente desaprovaria.

Não haverá nenhuma batalha na Alma: a mera intervenção da Razão é suficiente: a natureza inferior ficará em tal reverência da Razão que pelo menor movimento que tenha feito ficará triste, e censurará sua própria fraqueza, em não ter se mantido submisso e quieto na presença de seu senhor.


Versão inglesa de MacKenna

5. So we come to the scope of the purification: that understood, the nature of Likeness becomes clear. Likeness to what Principle? Identity with what God?

The question is substantially this: how far does purification dispel the two orders of passion – anger, desire and the like, with grief and its kin – and in what degree the disengagement from the body is possible.

Disengagement means simply that the soul withdraws to its own place.

It will hold itself above all passions and affections. Necessary pleasures and all the activity of the senses it will employ only for medicament and assuagement lest its work be impeded. Pain it may combat, but, failing the cure, it will bear meekly and ease it by refusing assent to it. All passionate action it will check: the suppression will be complete if that be possible, but at worst the Soul will never itself take fire but will keep the involuntary and uncontrolled outside its precincts and rare and weak at that. The Soul has nothing to dread, though no doubt the involuntary has some power here too: fear therefore must cease, except so far as it is purely monitory. What desire there may be can never be for the vile; even the food and drink necessary for restoration will lie outside of the Soul’s attention, and not less the sexual appetite: or if such desire there must be, it will turn upon the actual needs of the nature and be entirely under control; or if any uncontrolled motion takes place, it will reach no further than the imagination, be no more than a fleeting fancy.

The Soul itself will be inviolately free and will be working to set the irrational part of the nature above all attack, or if that may not be, then at least to preserve it from violent assault, so that any wound it takes may be slight and be healed at once by virtue of the Soul’s presence, just as a man living next door to a Sage would profit by the neighbourhood, either in becoming wise and good himself or, for sheer shame, never venturing any act which the nobler mind would disapprove.

There will be no battling in the Soul: the mere intervention of Reason is enough: the lower nature will stand in such awe of Reason that for any slightest movement it has made it will grieve, and censure its own weakness, in not having kept low and still in the presence of its lord.