SORABJI, Richard. The Philosophy of the Commentators, 200-600 AD: A Sourcebook. Vol. 1: Psychology. Ithaca: Cornell University Press, 2005.
Quatro coisas são impressionantes sobre psicologia nos comentadores. Primeiro, os neoplatonistas viam isso como uma porta de entrada para a Metafísica e a Teologia superiores. Em segundo lugar, Platão e Aristóteles discordaram mais sobre esse assunto, talvez, do que sobre qualquer outro, de modo que a harmonização era ainda mais difícil. Em terceiro lugar, os comentadores daqui foram além de Platão e Aristóteles do que em qualquer outro assunto, embora ache que os avanços que fizeram na Física foram frequentemente mais impressionantes. Em quarto lugar, vimos uma tendência platônica, ao contrário da de Aristóteles, de fazer com que a razão permeie outras funções mentais – percepção, autopercepção e formação de conceito – mesmo que a razão em questão às vezes seja baseada empiricamente.
O papel da Psicologia como porta de entrada para a Metafísica superior foi descrito acima em conexão com a virada interna radical tomada pelo Neoplatonismo – a adoção de ‘Conheça a Si Mesmo’ como ponto de partida e a liminar de procurar o Intelecto e o Único. A Metafísica resultante, com sua ideia de um universo consciente descendente do Divino através do Intelecto, está documentada em Lógica e Metafísica 13-18.
Ao introduzir o tratamento da Psicologia pelos comentadores, inevitavelmente tocarei novamente em alguns dos temas já discutidos, mas os colocarei no novo contexto do que mais estava acontecendo em Psicologia. Um dos assuntos já discutidos sobre os quais Platão e Aristóteles discordam é o papel da razão na percepção dos sentidos. Platão, será lembrado, afirma que a percepção sensorial pode captar muito pouco sem razão e opinião. Mas Aristóteles nega a razão e a opinião racional (doxa) aos animais e, portanto, permite um conteúdo muito mais rico à sua percepção sensorial, e concede-lhes também uma faculdade informativa para entender como as coisas aparecem, a fantasia, que, diferentemente de Platão, ele distingue nitidamente da doxa racional. Nesta controvérsia, os comentadores platonistas tendem a ficar do lado de Platão e tornam a doxa racional indispensável, pelo menos para o reconhecimento perceptivo. Porém, a pesquisa psicológica moderna favorece a ideia de Aristóteles de que, muito antes da racionalidade, a criança precisa ver o mundo em relação a si mesma, assim sendo melhor pensar na percepção ela mesma como tendo um conteúdo rico.