Parm. 130e-131e — A participação e suas dificuldades

És muito novo, Sócrates, teria dito Parmênides; a filosofia ainda não se apoderou de ti como espero que o faça quando não desprezares nada disso. Por enquanto, dás excessiva importância à opinião do homens; é defeito de idade.

V – Dize-me uma coisa: pelo que declaraste, admites a existência de ideias, das quais as coisas tiram os nomes, na medida em que delas participam, a saber: a participação da semelhança as deixa semelhantes, a da grandeza, grandes, e a da beleza e da justiça, justas e belas?

Perfeitamente, teria respondido Sócrates.

E é de toda a ideia ou apenas de alguma parte que participa o que dela participa? Ou além dessas pode haver outras modalidades de participação?

De que jeito? perguntou.

Como te parece: é a ideia inteira, dado que seja una, que se encontra em cada em desses múltiplos objetos, ou como será?

Que a impede, Parmênides, de continuar una? teria perguntado Sócrates.

Sendo, por conseguinte, una e idêntica, teria de estar, a um só tempo, inteira em todas as coisas separadas, do que decorre ter de ficar separada de si mesma.

De forma alguma, respondeu Sócrates; fora como o dia que, sendo uno e idêntico, a um só tempo se acha em todas as partes, sem, com isso, separar-se de si mesmo. É o que admitimos para cada ideia, se tiver de ser idêntica a si própria e estar presente em todas as coisas.

Agrada-me, Sócrates, a maneira como fazes uma só coisa estar presente em toda a parte. É o mesmo que se jogasses uma vela de navio em cima de muitos homens e dissesses que a unidade recobria o múltiplo. Não foi assim, mais ou menos, que te exprimiste?

Talvez, teria respondido.

E a vela inteira, recobriria cada pessoa, ou, de preferência, cada uma de suas partes esta ou aquela pessoa?

Sim, cada uma de suas partes.

Nesse caso, Sócrates, teria ele continuado, as ideias em si mesmas são divisíveis, e as coisas que delas participam só o são parcialmente, não adquirindo nenhuma delas toda a ideia, mas apenas uma parte de cada ideia.

Parece, de fato.

Não quererás, então, Sócrates, admitir que a ideia é realmente divisível, sem deixar de ser una?

Em absoluto, falou.

Considera o seguinte, teria ele acrescentado: se dividires a grandeza em si mesma, vindo a ser grande cada um dos objetos grandes em virtude da porção da grandeza menor do que a própria grandeza, não seria absurdo?

O cúmulo do absurdo, respondeu.

E então? Se cada participante recebe uma parcela da igualdade, com essa parcela menor do que a igualdade em si, poderá ele vir a ficar igual a seja o que for?

Não é possível.

Porém, se um de nós receber uma parte da pequenez, a pequenez em si mesma ficará maior do que essa parte, que é parte dela própria, vindo, desse modo, a ser grande o que e pequeno, enquanto aquilo a que foi acrescentando o que lhe foi tirado, não ficará maior do que era antes, porém menor.

O que em absoluto não pode ser, teria ele respondido.

Então, de que jeito, Sócrates, voltou a falar, admites que as coisas participem da ideia, se isso não pode ser nem por meio das partes nem do todo?

Por Zeus, teria dito, não me parece fácil destrinçar de jeito nenhum essa questão.