Estrangeiro – Acompanhas-me rente ao calcanhar, Teeteto. A meu ver, o método aconselhável será interrogá-los da seguinte maneira, como se eles estivessem presentes: Vejamos, vós aí, defensores da ideia de que o todo é o quente e o frio ou dois princípios semelhantes: que pretendeis, ao certo, enunciar, quando dizeis que um e outro ou cada um de per si é ou existe? Como devemos entender esse vosso É? Teremos de admitir um terceiro princípio acrescentado aos dois primeiros, e aceitar que o todo é três, conforme dissestes, não dois apenas? Pois se derdes o nome de Ser a um dos dois, não quereis significar com isso que ambos igualmente sejam. De qualquer forma, um, apenas, terá de ser, não dois.
Estrangeiro – Ou quem sabe se quereis dar ao par o nome de ser?
Teeteto – Talvez.
Estrangeiro – Porém assim, amigos, voltaríamos a lhes falar, diríeis abertamente que ambos são um.
Teeteto – Falarias com muito acerto.
Estrangeiro – Já que nos encontramos em dificuldades, compete-vos esclarecer o que quereis indicar, quando pronunciais a palavra Ser. É evidente que há muito sabeis isso. Já houve tempo em que nós, também, julgávamos saber; porém agora nos encontramos seriamente atrapalhados. Começai por ensinar-nos esse ponto, a fim de não imaginarmos que compreendemos o que dizeis, quando se dá precisamente o contrário. Falando-lhes dessa maneira e exigindo resposta, não apenas deles mas de quantos afirmam que o todo é mais do que um acaso estaremos exorbitando, menino?
Teeteto – Absolutamente.