Estrangeiro – Estamos longe de ter esgotado o número dos pensadores meticulosos que se ocuparam com a questão do ser e do não-ser, porém o que já vimos é suficiente. Precisamos agora considerar os que defendem outras doutrinas para, no final de contas convencermo-nos de que a natureza do ser não é absolutamente mais fácil de compreender do que a do não-ser.
Teeteto – Então, passemos também a examiná-los.
Estrangeiro – Dão-nos a impressão de que todos estão travados numa luta de gigantes, tal é sua discordância a respeito do ser.
Teeteto – Como assim?
Estrangeiro – Uns puxam para a terra tudo o que do céu e do domínio do invisível, tomando nas mãos literalmente, rochas e carvalhos, pois é em tais coisas que se aferram, com afirmarem obstinadamente que só existe o que oferece resistência e que, de algum modo se pode pegar. Definem o corpo e o ser como idênticos, e se alguém do outro bando assevera que há seres sem corpo, não lhe concedem a mínima atenção e interrompem nesse ponto o diálogo.
Teeteto – É uma gente inconversável, realmente; vi muitos tipos assim.
Estrangeiro – Por isso mesmo, os que contestam suas proposições se defendem cautelosamente do alto de alguma região invisível, forçando-os a admitir que a verdadeira essência consiste em certas ideias inteligíveis e incorpóreas. Quanto aos corpos, segundo os adversários e o que eles denominam verdade reduzem-nos a pedacinhos com seus argumentos, e em lugar de essência lhes concedem apenas geração e movimento. Entre esses dois campos, Teeteto, a luta é encarniçada e ininterrupta.
Teeteto – É muito certo.
Estrangeiro – Perguntemos, então, a esses dois partidos, um por vez, o que eles entendem por essência.
Teeteto – E como arrancaremos deles tal explicação?