Estrangeiro – Agora digamos por que razão empregamos nomes diferentes para designar a mesma coisa.
Teeteto – Em que casos? Cita um exemplo.
Estrangeiro – Aplicamos ao homem as mais variadas denominações, como atribuir-lhe cor, forma, estatura, vícios e virtudes, e com todas essas conotações, e mais dez mil diferentes, não dizemos apenas que se trata de um homem, mas de certo homem bondoso e possuidor de um sem-número de. atributos. O mesmo passa com muitas outras coisas, que a principio imaginamos como unidades, mas depois tratamos como múltiplas e as designamos por uma infinidade de nomes.
Teeteto – O que dizes é a pura verdade.
Estrangeiro – Com isso aprestamos um genuíno banquete para os moços e também para os velhos de cabeça dura. Nada mais fácil do que contestar que o uno possa ser múltiplo e o múltiplo uno. Por isso mesmo, exultam com poderem negar que o homem é bom. Não; só permitem dizer-se que o bom é bom e o homem é homem. Atrevo-me a afirmar, Teeteto, que já encontraste muitos tipos que se deliciam com tais disquisições e, por vezes, até mesmo velhos que, por pobreza de espírito, admiram semelhantes futilidades, consideradas por eles como o suprassumo da sabedoria.
Teeteto — Sim, absolutamente.