chaos

À plenitude da chora, na qual a coisa tem lugar, responde a vacuidade primitiva do caos. O termo aparece pela primeira vez na Teogonia de Hesíodo, antes de ser retomado por Aristófanes e Platão, com o discurso de Fedro no Banquete. Não remete no poeta a um espaço agitado de massas em desordem, mas uma Abertura primitiva por onde o mundo advém. Nenhum epíteto precisa o sentido desta abertura obscura de onde nascerá Gaia, antes de Eros, em seguida Herebos e Nyx. Tudo indica no entanto que Caos ;e um princípio cósmico de diferenciação, talvez acoplado ao abismo indiferenciado do Tártaro. A etimologia provável da palavra remete aos verbos chaino, chaskho, chaizo, “se abrir”, “abrir a boca”, formadas sobre o radical chas- presente em chasma, “abismo”, chasem, “boca aberta”, “bocejo”. Heidegger reconhece ainda este sentido arcaico do caos no pensamento de Nietzsche: “Caos, chaos, chaino, significa o bocejo, a boca aberta, o que se abre em dois. Entendemos chaos em estreita conexão com uma interpretação original da aletheia enquanto o abismo que se abre.”

O termo chaos, ele mesmo, está ausente do Timeu que descreve no entanto a desordem cinética dos quatro elementos neste “campo de luta” de que fala Victor Brochard como se tivesse sido apagado pela inscrição da chora que Platão pensa, na linhagem de Hesíodo, como pura abertura. (Excertos de Jean-François Mattéi, Platon et le Miroir du mythe)