Após um lapso de tempo de treze séculos, Marsílio Ficino (1433-1499), a par de diálogos de Platão, traduziu para o latim as Enéadas e as comentou. Essa obra foi publicada em 1492. Os helenistas acolheram, agradecidos, a tradução de Ficino. Muito proveito tiraram dela também os Platonistas de Cambridge.
Um aspecto que importa ressaltar em Ficino é a relação entre érôs, beleza e arte, elaborada com inspiração em Plotino. O mundo, como imagem do Uno (Deus), é fulgor Dei, isto é, imagem luminosa da Beleza absoluta, que se difunde criativamente.
A beleza do mundo desperta, no homem, o érôs (amor), como força que compreende o fundamento ontológico do mundo e conduz à Beleza absoluta. A visão da Beleza divina em si mesma constitui o fim último desse movimento de amor.
Tal como o amor, a arte tem função anagógica, ou seja, de ascensão ao Uno divino, porque a arte constitui a representação simbólica e sensivelmente perceptível da Beleza inteligível. A arte é um vestígio do artífice divino, uma imitação1, porque nela se escutam “as vozes do alto”, como diz Ficino. Assim, ele concorda com Plotino, para quem as artes “não simplesmente imitam as coisas que se veem, mas elevam às formas ideais, donde deriva a natureza” (En. V, 8, 1, 33-37). Nessa concepção plotiniano-ficiniana inspirou-se o sentido da arte dos grandes mestres da Renascença. (Excertos de “Plotino, um estudo das Enéadas”, de R.A. Ullmann)
“Anche l’interpretazione di Ficino dell’essenza e della funzione dell’arte e della creazione artística dev’essere compresa a partire dalla continuità di questo conceito di una mímêsis della natura fondata in senso metafísico e rivolta alle idee: ‘imitatio’ come espressione simbólica ed insieme precisazione dell’elemento naturale, como spiritualizzazione del sensibile o come lasciar-apparire in ogni figura artística l’intelligibile, le Idee, in forme sensibili di grande effetto” (BEIERWALTES, Werner, Plotino – Plotino. Un cammino di liberazione verso l’interiorità, lo spirito e l’uno (Temi metafisici e probl. del pens. ant.), 2. ed. (Milano, 1993), p. 89). ↩