Capítulo 8: A união com o Uno se realiza pela semelhança e a identidade com ele.
1-13. A alma é como um círculo que gira ao redor do Uno, que é o centro de tudo.
13-33. O contato da alma com o Uno não é de natureza “corporal” nem “local”, pois trata-se de um contato “inteligível” que se faz pela semelhança e a identidade.
33-45. O Uno está por toda parte, e logo estamos sempre ao redor dele, mesmo se não fixamos sempre nosso olhar sobre ele.
8. Logo se uma alma se conhece ela mesma em um outro momento, e que ela percebe que seu movimento não é linear, salvo se é interrompido, mas que seu movimento natural se aparenta àquele que se efetua em círculo, não ao redor de algo de exterior, mas ao redor de um centro — o centro sendo isso do qual provém o círculo — então, ela girará ao redor deste centro do qual ela provém. Ela se suspenderá a ele, em se levando ela mesma para ele, para este centro onde todas as almas deveriam aportar, mas para o qual não aportam sempre senão as almas dos deuses. E são deuses, precisamente porque se aportam a ele. Pois o deus é o que é unido a este centro, enquanto o que dele se afasta muito, é o homem ordinário e a besta.
— E isto que é como o centro da alma, é isso que se busca?
— Não é preciso pensar de preferência que buscamos uma outra coisa, na qual coincidem todos estes centros, e que é um centro em relação ao centro do círculo visível? Pois a alma não é um círculo à maneira de uma figura geométrica, mas porque a «antiga natureza» está nela e ao redor dela, e que é daí que a alma provém, e mais ainda, porque todas as almas estão separadas dos corpos. Mas de fato, posto que uma parte de nós está retida pelo corpo, como se se tivesse os pés na água e o resto do corpo acima, em nos elevando acima do corpo pela parte que não está submersa nela, podemos desta maneira fazer que nosso centro reúna isto que é como o centro de todas as coisas, assim como os centros dos círculos maiores coincidem com centro da esfera que os compreende; e então, podemos encontrar o repouso. E se estes círculos fossem corporais, e não psíquicos, eles encontrariam, em contato com o centro; e como o centro se encontra em um lugar, eles seriam ao redor dele; mas posto que as almas pertencem elas mesmas ao inteligível, e que ele, está acima do intelecto, é preciso supôr que o contato se faz por outros poderes, como «o que pensa» é naturalmente em contata com o que é pensado; e mais ainda, em virtude da semelhança e da identidade, é preciso supôr que o que pensa está presente no que é de um mesmo gênero e que está em contato com ele, se nada a isto se opõe. Pois os corpos são impedidos pelos corpos de comunicar entre eles, mas os incorporais não são impedidos pelos corpos; logo não é devido ao lugar que elas estão afastadas umas das outras, mas devido à alteridade e à diferença; consequentemente, quando não há alteridade, estas coisas, que não podem ser diferentes, são apresentadas umas às outras. Ao passo que ele, não tem alteridade, está sempre presente, não não lhe estamos sempre presentes senão quando estamos desprovidos de alteridade. E não ele que nos deseja, de maneira a estar ao nosso redor, mas somos nós que o desejamos, de maneira a estar ao redor dele. E estamos sempre ao redor dele, mas não olhamos sempre para ele. Assim vai como para um coral: em cantando, ele faz sempre círculo ao redor do corifeu, mas ele lhe sucede de dirigir seu olhar para o exterior. Em revanche, quando gira seu olhar para o corifeu, canta bem e está verdadeiramente ao redor dele. Da mesma maneira, estamos sempre ao redor dele — se assim não fosse o caso, estaríamos inteiramente destruídos e não existiríamos —, mas não estamos sempre voltados para ele. Ao contrário, cada vez que olhamos para ele, encontramos então «nosso fim e nosso repouso», e o canto não é mais discordante para nós que dançamos verdadeiramente ao redor dele uma dança inspirada pela divindade.