Todos os homens, desde o princípio, usam os sentidos antes do entendimento, e aplicam-se primeiro, necessariamente, às coisas sensíveis; alguns nisso permanecem, crendo toda sua vida que essas coisas são as primeiras e as últimas, e que a dor e o prazer que nelas se encontram são o mal e o bem, e afigura-se-lhes que basta viver procurando um e evitando o outro. E entre estes, os que usam a razão afirmam que isso é a sabedoria: são como as aves pesadas, que participam muito da terra e devido a seu peso não podem voar alto, embora a Natureza lhes haja dado asas. Os outros elevam-se um pouco das coisas inferiores, pois o superior da alma os move do agradável ao melhor. Porém, incapazes de ver o superior, e como não possuem outra coisa onde se apoiarem, precipitam-se, com o nome da virtude, sobre as ações e escolhas entre as coisas inferiores, das quais haviam primeiro tentado elevar-se. A terceira raça de homens, divinos por sua capacidade superior e pela agudeza de sua vista, vê com seu olhar penetrante o esplendor do alto, como que se eleva por cima das nuvens e da obscuridade daqui, e lá permanece, contemplando todas as coisas aqui de baixo: deleita-se nesse lugar de verdade que lhe é próprio, como um homem que depois de uma longa peregrinação chega a uma pátria bem governada.
(Enéada V, IX, 1.)