Contou Pitodoro que durante toda essa fala de Sócrates, ele teve medo de que Parmênides e Zenão se agastassem a cada uma de suas objeções. Mas a verdade é que ambos o ouviram com a máxima atenção, e a todo instante, sorrindo, se entreolhavam, como que tomados de admiração diante de Sócrates. Nesse estado de espírito, logo que Sócrates terminou, falou Parmênides: Como é louvável, Sócrates, esse teu amor à argumentação! Porém dize-me se fazes a distinção formulada por ti mesmo e de um lado pões as próprias ideias e do outro as coisas que delas participam? Porventura és de parecer que exista à parte a semelhança em si mesma, distinta da semelhança muito nossa, e bem assim o Uno e o múltiplo e tudo o mais que acabaste de ouvir de Zenão?
Sem dúvida, falou Sócrates.
E também, continuou Parmênides, nos seguintes casos acreditas que haja a ideia do justo em si mesmo, e do belo e do bem e de tudo o mais do mesmo gênero?
Acredito, foi a resposta.
Como! A ideia do homem, distinta de nós e de todos os que são como nós, a ideia do homem em si mesmo, a do fogo e a da água?
A esse respeito, teria respondido, por vezes me vejo em grande perplexidade, sem saber se tais casos admitem resposta igual ou diferente.
E os seguintes objetos, Sócrates, que talvez pareçam ridículos, como cabelos, lama, sujidade e tantas coisas mais, insignificantes e destituídas de valor? Vacilas em admitir que para uma dessas coisas há uma ideia à parte e diferente dos próprios objetos que tocamos com a mão, ou que não há?
De forma alguma, teria respondido Sócrates, as coisas que vemos, existem mesmo; admitir ideias para tudo isso, afigura-se-me sobremodo estranho. Porém frequentes vezes me sinto inquieto sobre aceitarmos ou não a conclusão de que o que serve para um caso é válido para todos. Mas, quando chego a esse ponto fujo à toda pressa, de medo de cair nalgum abismo de insensatez e nele parecer. Daí acolher-se às coisas para as quais admitimos ideias e discorrer a seu respeito o tempo todo.