E como referência à aquisição do conhecimento (phronesis)? O corpo (soma) constitui ou não constitui obstáculo, quando chamado para participar da pesquisa? O que digo é o seguinte: a vista (opsis) e o ouvido (akon) asseguram aos homens alguma verdade? Ou será certo o que os poetas (poietai) não se cansam de afirmar, que nada vemos nem ouvimos com exatidão? Ora, se esses dois sentidos corpóreos não são nem exatos nem de confiança, que diremos dos demais, em tudo inferiores aos primeiros? Não pensas desse modo?
Perfeitamente, respondeu.
Então, perguntou, quando é que a alma (psyche) atinge a verdade (aletheia)? É fora de dúvida que, desde o momento em que tenta investigar algo na companhia do corpo, vê se lograda por ele.
Tens razão.
E não é no pensamento (logizesthai) – se tiver de ser de algum modo – que algo da realidade se lhe patenteia?
Perfeitamente.
Ora, a alma pensa melhor quando não tem nada disso a perturbá-la, nem a vista nem o ouvido, nem dor (algedon) nem prazer (hedone) de espécie alguma, e concentrada ao máximo em si mesma, dispensa a companhia do corpo, evitando tanto quanto possível qualquer comércio com ele, e esforça-se por apreender a verdade (ontos, realidade).
Certo.
E não é nesse estado que a alma do filósofo (philosophou) despreza o corpo e dele foge, trabalhando por concentrar-se em si própria?
Evidentemente.