República II

Rocha Pereira

Excertos da Introdução de Maria Helena da Rocha Pereira, à sua tradução da “República

Entre a concepção crematística de Céfalo e 0 paradoxo do Sofista, ficaram sem consistência os alicerces morais da Justiça. Por isso, no princípio do Livro II, se insiste em querer saber a natureza da justiça e da injustiça «sem ligar importância a salários nem a consequências».

Os dois irmãos de Platão querem, portanto, a demonstração de que a justiça é intrinsecamente boa. Para tanto, Sócrates propõe-se apreciar os factos em grande escala, o que lhe facilitará a tarefa. Por conseguinte, transfere a sua análise do indivíduo para a cidade.

Descrevem-se então as transformações de uma cidade, que, de primitiva, se torna em luxuosa, motivo por que começa a precisar de uma especialização de tarefas cada vez maior. Essa cidade carece de soldados que a defendam e preservem — de guardiões com um treino próprio. A educação deve dar-se-lhes, pela música e pela ginástica, à maneira tradicional grega60, principia a ser estudada em 376c. Mas música, para os Helenos, é a arte das Musas, em que a poesia não se dissocia dos sons. Ora as fábulas dos poetas, que costumam ensinar-se às crianças, estão repletas de falsidades sobre os deuses, a quem atribuem todos os defeitos, em vez de revelarem a divindade na perfeição dos seus atributos. No começo do livro já se haviam feito citações de versos que sugeriam que os deuses não eram garantia de justiça; agora declara-se abertamente que os poetas não servem para instruir a juventude.

Francis Wolff

Eggers Lan

G.R.F.Ferrari

Jowett

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