aisthesis (médio e neoplatonismo)

23. Mas algumas das antigas posições democritianas parecem agora insustentáveis. Epicuro ainda sustenta a corporeidade essencial da alma (cf. D. L., X,63), mas a sua relação com o corpo foi redefinida (ver os comentários de Lucrécio III, 370 ss.) e adicionado um novo ingrediente, o misterioso «elemento sem nome» (ver psyche 27 para ambos os desenvolvimentos). É o agrupamento orgânico (ver holon) dos átomos deste último que transmite a sensação, a qual é o movimento dos atoma, aos outros constituintes da alma, e daí ao resto do corpo (Lucrécio III, 242-251, 271-272), processo que é possível apenas porque os átomos da alma estão contidos no invólucro (stegazon) do corpo (D. L., X, 64; ver gênesis).

24. Desde o tempo de Aristóteles aparece uma nova nota afirmativa na epistemologia da aisthesis. Para Aristóteles os sentidos são incapazes de erro em relação aos seus próprios objetos (De anima III, 428b), mas em Epicuro isto torna-se o único critério de verdade (Sexto Empírico, Adv. Math. VII, 9; D. L., X, 31; Lucrécio IV, 479; ver energeia, prolepsis). Entre os estoicos encontra-se idêntica opinião acerca da verdade dos sentidos (SVF II, 78). Esta asserção da certeza fisiológica é, contudo, de pouco significado visto que, para eles, como para Aristóteles, a verdade no seu sentido fundamental é uma função noética. É só quando as impressões (typoseis) nos órgãos dos sentidos são levadas, através do pneuma (ver psyche) à faculdade racional (hegemonikon) e aí aceites (ver katalepsis) que a verdade primeira é possível; ver phantasia, noesis 16.

25. O processo da aisthesis faz exatamente parte do problema estoico mais amplo da materialidade dos pathe. O uso que Zenão faz da frase «impressão (typosis) sabre o hegemonikon» (SVF I, 58; Aristóteles usara a mesma expressão: De mem. 450a) provocou uma reação por parte de Crisipo o qual tentou disfarçar a materialidade da imagem, substituindo expressões como «alteração (heteroiosis) no hegemonikon» (Sexto Empírico, Adv. Math. VII, 233, 237) ou reduzindo todos os pathe a juízos (kriseis; SVF III, 461; ver noesis 17).

26. A explicação que Plotino dá da sensação começa com a aceitação da premissa aristotélica de que a alma é um eidos do corpo (Enéadas I, 1, 4; mas ver hyle II). O composto, i. e., o animal tem sensação por causa da presença da alma (I, 1, 7), mas a própria alma é impassível (apathes): as suas faculdades são como reflexões de si própria que permitem às coisas que as possuem, agir (I, 1, 8).

27. A alma em si e de si é apenas capaz de atividade intelectual. Como é então conseguido o contato com o sensível (aisthethon)? Este é função dos órgãos corpóreos do corpo (IV, 5, 1) que são capazes de servir de intermediários. O organon é a coisa material que é afetada (pathein), e o pathos do órgão representa o meio proporcional (meson kata logon) entre o objecto sensível e o sujeito noético (IV, 4, 23; a linguagem faz lembrar Aristóteles mas o conceito deve nitidamente, como na verdade a própria noção de meio aristotélico, alguma coisa à noção platônica de limite; cf. peras). Deste modo os pathe que são corpóreos no órgão (e isto é um tipo de aisthesis), são noéticos quando recebidos pela alma (e isto é a verdadeira aisthesis; I, 1, 7). A função do órgão é pois converter as impressões (typoseis) sobre os sentidos em atividades (energeiai) anímicas de tal modo que a impassibilidade da alma possa ser mantida contra os estoicos (confrontar III, 6, 1). O processo de julgar estas formas inteligíveis transmitidas pelos sentidos é raciocínio discursivo (dianoia; I, 1, 9); ver noesis 19-20. Para a extensão do princípio da semelhança para além limites da aisthesis, ver sympatheis. [Termos Filosóficos Gregos, F. E. Peters]