“A criação do homem por meio do trabalho humano” foi uma das mais persistentes ideias de Marx desde sua juventude. Essa ideia pode ser encontrada em variantes diversas no Jugendschriften, em que, na “Kritik der Hegelschen Dialektik”, ele a atribui a Hegel (cf. Marx-Engels Gesamtausgabe, Parte I, v. 5 (Berlim, 1932), p. 156 e 167). Fica claro no contexto que Marx realmente pretendia substituir a tradicional definição do homem como animal rationale ao defini-lo como um animal laborans. Reforça a teoria uma sentença da Deutsche Ideologie, que mais tarde foi suprimida: “Der erste geschichtliche Akt dieser Individuen, wodurch sie sich von den Tieren unterscheiden, ist nicht, dass sie denken, sondern, dass sie anfangen ihre Lebensmittel zu produzieren” (ibid., p. 568). Formulações semelhantes ocorrem nos “Manuscritos econômico-filosóficos” (ibid., p. 125) e na “Sagrada Família” (ibid., p. 189). Engels empregou formulações semelhantes muitas vezes; por exemplo, no Prefácio de 1884 a Origem da família e no artigo de jornal de 1876, “Labour in the transition from ape to man” (cf. Marx, K. & Engels, F. Selective works (Londres, 1950), v. II). Parece que foi Hume, e não Marx, o primeiro a insistir em que o trabalho distingue o homem do animal (Adriano Tilgher, Homo Faber (1929); edição inglesa: Work: what it has meant to men through the ages (1930)). Como o trabalho não desempenha qualquer papel importante na filosofia de Hume, esse fato tem interesse apenas histórico; para ele, essa característica não tornava a vida humana mais produtiva, mas somente mais árdua e mais dolorosa que a vida animal. Contudo, é interessante, nesse contexto, notar com que cuidado Hume insistia repetidamente que nem o pensamento nem o raciocínio distinguem o homem do animal, e que o comportamento das bestas demonstra que eles são capazes de ambos. (ArendtCH:C11 Nota)