O termo “aporia” (aporia em grego, contrário de euporia; dubitatio em latim) significa falta de saída, penúria, embaraço e necessidade. Nos diálogos de Platão, aporia designa a percepção de uma falta, a problemática de conteúdos de um fato filosófico ou a incapacidade de obter alguma coisa (Crát. 415c; Banq. 203e; Mên. 76; Prot. 324e). Em Platão, a aporia se encontra em estreita ligação com o procedimento do elenchos, cujo “resultado” descreve a aporia. A aporia adquire um significado central nos diálogos de Platão (Erler 1987a; Mackenkie 1988, p. 15-45), pois em inúmeros diálogos as tentativas de definir virtudes ou sua ensinabilidade terminam aporeticamente, isto é, em perplexidade dos interlocutores (por exemplo, Laques, Cármides, Eutífron, Protágoras, Lísis). Mas também terminam aporeticamente as discussões sobre as ideias (Parmênides; Erler 1987b, p. 153-163) e sobre a possibilidade do conhecimento (Burnyeat 1990). Essas aporias nascem quando um interlocutor aparentemente sábio se enreda em contradições, reconhece a dubiedade da certeza de seu saber e, por isso, não pode continuar discutindo, mas também já não reivindica saber o que ele não sabe. Conforme o talento do interlocutor, a aporia significará uma tarefa de investigação (por exemplo, Agatão no Banquete) ou um estímulo para investigar mais (Sócrates, Banq. 201d ss.). A aporia conduz, portanto, àquela ignorância sapiente que se acha entre o não-saber (doxosophos) e o saber (sophos) e marca o início da busca pelo saber e, portanto, da filosofia (Cárm. 169c-d). A causa do estado aporético, muitas vezes descrito com metáforas como vertigem, estupefação, paralisia (Mên. 84c; Prot. 321c), é a falta do saber necessário para a defesa das teses nos parceiros de Sócrates. No entanto, irregularidades argumentativas ou retenção do saber — percebida como dissimulação irônica — por parte de Sócrates desempenham às vezes algum papel. Indicações comentadoras de Sócrates levam o leitor a supor que há possibilidades de uma superação da aporia no sentido de Platão (Erler 1987a, p. 78 ss., 259 ss.). Assim, a aporia marca ao mesmo tempo um ponto final mas também um reinicio para uma busca adicional, com uma meta determinada. Com seu caráter orientador no caminho da falta à plenitude e ao conhecimento, a aporia, como estação intermediária, torna-se uma parte essencial da filosofia de Platão (Schulz 1960, p. 261-275; Erler 1996, p. 38-42). A estrutura da República pode, no sentido de uma interpretação própria, servir como indício de que Platão via a aporia como algo que é, por princípio, solucionável, e queria que fosse vista assim, e de qual condição deve ser cumprida para tanto. No primeiro livro, a pergunta pela justiça fracassa no diálogo com Trasimaco, mas nos livros seguintes com os irmãos “filosoficamente” mais abertos, Adimanto e Glauco, ela é levada adiante num nível superior com aspectos totalmente positivos (Szlezák 1985, p. 281 s.). Evidentemente, é essencial uma mudança de nível na consideração do problema, mudança que — como de fato ocorre com frequência nos diálogos — é acompanhada por uma mudança de interlocutor e, por assim dizer, dramaticamente expressa. O símile da caverna na República — também se podería indicar o interrogatório do escravo no Mênon (Szlezák 1985, p. 186) — corrobora essa interpretação: o filósofo que, após a contemplação da verdade, retorna à caverna obriga, por meio de perguntas e aporia, os habitantes prisioneiros da caverna (Rep. 515d), fixos na ilusão de que as imagens na parede são idênticas à realidade, a virar-se por completo (Szlezák 1997, p. 223). Só então é possível a ascensão rumo ao conhecimento da verdade. (SCHÄFER)