Ferreira dos Santos: O conceito aristotélico de «movimento»

O MOVIMENTO

Um movimento absoluto (como quantitativamente infinito) seria um movimento que negaria a si mesmo por privação. Afirmaria a simultaneidade. O movimento absoluto de Einstein, o é em relação ao movimento da luz. Algo para mover-se tem de ser determinado, finito, ter existência tempo-espacial, portanto conjunto de contradições, o que não permitiria um movimento infinito nesse sentido quantitativo, extensista.

O movimento, em seus graus, é condição de tudo quanto é tempo-espacial (corpo).

O movimento tópico é contraditório dialeticamente, não formalmente, pois um mover-se de… é sempre um afastar-se de… e um aproximar-se de…

Toda curva encerra em si a potência de afastar-se, de conhecer modos diversos sem deixar de ser curva. É invariavelmente curva, e variavelmente vária. Já a reta, que afastar-se da retitude, deixa de ser reta. O movimento, em sua última diligência fundamental, deve ser curvo, por isso pode contradizer-se sem negar a sua própria identidade. O movimento curvo mostra sua contradição no movimento do próprio círculo.

Esta obra de Aristóteles trata das mutações.

Impõe-se distinguir duas classes de mutações. Há em cada mutação a transição de um termo inicial para um termo final (terminus a quo e terminas ad quem). Serão esses dois termos, para que haja mutação, diferentes entre si, pois, do contrário, não haveria mutação. Algo entre eles deve se opor. Mas essa oposição pode ser vária. Se a oposição é contraditória, e neste caso há afirmação a negação, isto é, mutação de um “ser” para um “não-ser”, não se pode dar nenhum intermediário, como já nos mostrou Aristóteles no “Organon”, pois não há entre opostos contraditórios possibilidade de um meio termo. Entre ser e não-ser não há lugar para intermediários. Num movimento contínuo, duas esferas que ao se aproximarem se tocam, a passagem entre o “não-tocar” e o “tocar” é instantânea, como é instantânea a passagem de um corpo do estado de quietude para o de movimento.

O outro tipo de mutação é aquela em que o sujeito da mutação passa através de fases intermédias entre o terminus ad quo e o terminus ad quem. No movimento tópico, local, vemos tal exemplo, pois há uma distância entre os dois termos que o móvel percorrerá. Nas mutações intensistas, por ex. aquecimento-resfriamento, dá-se o mesmo. A teoria dos mínima de Aristóteles pode ser aplicada também às intensidades, como já o faziam os escolásticos, como o expõe Suarez nas “Disputationes Metaphysicas”, do que oportunamente trataremos.

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