askesis

áskêsis = ascese. Porque queria “uma referência para a virtude” (Diógenes Laércio VII 121), o cinismo antigo, tal qual o praticava Diógenes, propôs um método específico, fundado sobre a ascese, que deveria permitir ao homem vencer o que poderia se chamar os ponoi últimos, quer dizer os sofrimentos. pelos quais a Fortuna e o destino arriscam um dia ou outro de destruí-lo. A ascese cínica deve a Sócrates tudo a respeito de sua ascese. [Notions philosophiques]


EVANGELHO DE JESUS:
E por isso procuro (askeo: me esforço, me empenho) sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens. (Atos 24:16)


Evagrio: “um trabalho bem ordenado sobre si-mesmo”.

Ysabel de Andia: MYSTIQUES D’ORIENT ET D’OCCIDENT
As três qualidades que caracterizam a santidade de Santo Antão são: igualdade d’alma, hegemonia da razão (logistikon) e ser “segundo a natureza”, expressão que se repete na VIDA DE SANTO ANTÃO para indicar a perfeição (katartismos) como retorno ao estado original do homem. Segundo G. Couilleau, deve-se interpretar a oposição natureza-cultura ou natureza-lei segundo uma tripla oposição: “natureza (physis), ensinamento (mathesis) e exercício (askesis), que se tornou lugar comum na Grécia clássica.


Mario Satz:
Entre os gregos, askesis significava exercício e controle de si mesmo com vistas à obtenção de força, habilidade e maestria nos jogos atléticos. Os estoicos foram os primeiros a usar esta palavra em sentido moral, tendo-a passado aos cristãos. Mais adiante, nos primeiros séculos de nossa era, ascese veio a significar, para um cristão, principalmente abstenção de vinho e de vida conjugal, exatamente como faziam os antigos nazarenos bíblicos (Samuel, Sansão, Jesus), embriagados e casados com o si-mesmo de seus corações, abandonando todo bem quantitativo para percorrer o caminho do qualitativo. Embora fracassassem vez por outra, por serem as tentações muitas e variadas, o exercício ascético lhes parecia indispensável ao armazenamento e direcionamento de energia para um fim tão inescrutável e numinoso. Os primeiros ascetas cristãos foram os anacoretas ou ermitões do deserto, que se abstinham de quaisquer relações pessoais ou sociais, imaginando, desta forma, poderem ligar-se mais a Deus. O corpo, considerado pelos gregos quase sempre como matéria de orgulho e instrumento de prazer, foi tido pelos ascetas cristãos como desprezível e corrompido, devendo assim ser humilhado e reprimido. Pensou-se, durante cerca de duzentos anos, que este tipo humano, o asceta de vida austera, capaz de submeter-se as mais severas penitências, fosse o verdadeiro servo de Deus. No entanto, hoje, o fakir muçulmano, o “pobre”, despojado e mendicante, busca através da ascese um contato com o divino, com um plenum somente acessível após um esvaziamento prévio, após atingir deliberada e conscientemente o vacuum tão bem expresso por São João da Cruz: “Deve-se, pois, ter a boca da vontade sempre aberta para Deus, vazia, sem nenhum resquício de apetite, para que Deus a encha com seu amor e doçura, tendo-se fome e sede somente de Deus.”