Baracat: Enéada III-6-5 Impassibilidade e purificação

Tradução em português de José Carlos Baracat Júnior

5. Então, por que deve-se buscar tornar a alma impassível através da filosofia se ela não é afectada desde o início? Ora, uma vez que essa representação, por assim dizer, penetra na chamada parte afectiva da alma, ela produz o afecto subsequente, o desconserto, e a imagem do mal pressentido se prende ao desconserto, e assim a razão julgou que devia eliminar totalmente tal imagem como suposta afecção e não permitir que se produzisse, na suposição de que, se se produz, a alma não esteja em bom estado, ao passo que, se não se produz, a alma se mantém impassível, uma vez desaparecida a causa da afecção, ou seja, a visão que se dava nela: é como se alguém, querendo acabar com as imaginações de seus sonhos, despertasse a alma imaginativa supondo que ela tivesse causado as afecções, tomando aquela espécie de visões vindas de fora por afectos da alma.

Mas que seria a purificação da alma se ela não permanece imobilizada de algum modo, ou que seria separá-la do corpo? Ora, a purificação seria deixá-la sozinha e não acompanhada de outras coisas, ou não deixá-la a olhar para outra coisa nem a ter opiniões alheias, seja qual for o modo das opiniões, ou das afecções, como foi dito, e seria também não olhar para imagens nem fabricar afecções a partir delas. E o voltar-se das coisas de baixo para as outras, as de cima, não é verdade que é uma purificação, mais ainda, uma separação, por parte daquela alma que deixa já de estar no corpo como pertence deste? E ser como uma luz em um meio não turvo? Todavia, por mais que a luz esteja nesse meio turvo, ela é impassível. Mas a purificação da parte afectiva consiste em despertar de suas imagens absurdas e não olhar para elas, ao passo que a separação se logra moderando sua inclinação e deixando de imaginar coisas aqui de baixo. Mas a separação da parte afectiva seria também a supressão das coisas de que ela se separa quando não vai montada num sopro turvado pela gula e pela abundância de carnes impuras, mas quando seu veículo é tão sutil que ela possa viajar nele tranquilamente.