Tratado 26 (III, 6) – Estrutura (Baracat)

Linhas 1-11: identidade: no intelecto ocorre a contemplação perfeita, em que sujeito e objeto são idênticos:

Essas coisas são assim. Mas como, ao elevar-se a contemplação da natureza à alma e desta ao intelecto, as contemplações se tornam sempre mais íntimas e unificadas aos contemplantes, e na alma sábia os objetos conhecidos caminham para a identificação com o sujeito que conhece, pois aspiram ao intelecto, é evidente que no intelecto ambos são um, não por apropriação, como no caso da melhor alma, mas por essência e por serem “o mesmo o ser e o inteligir”. Já não há uma coisa e outra diferente: pois, neste caso, novamente haverá algo outro, que não mais será um e outro. Portanto ambos devem ser realmente um: isso é contemplação viva, não um objeto de contemplação como o que está em algo diferente.

Linhas 12-30: primacialidade: o intelecto é a primeira vida e a primeira intelecção e eles são um apenas:

Pois o que está em outro, vivendo por causa dele, não é um autovivente. Ora, se um objeto de contemplação e um pensamento hão de viver, devem ter vida por si mesmos e não uma vida vegetativa nem sensitiva nem alguma outra vida psíquica. Essas vidas, de certo modo, são intelecções; mas uma é intelecção vegetativa, outra sensitiva, outra psíquica. Então, como são intelecções? Porque são logoi. E toda vida é uma intelecção, porém uma é mais frágil que a outra, assim como a vida. Mas esta vida é mais nítida: a primeira vida e o primeiro intelecto unificados. Assim, a primeira vida é uma intelecção; a segunda vida, a segunda intelecção; e a última vida, a última intelecção. Toda vida é desse gênero e é intelecção. Mas talvez as pessoas falem de diferentes tipos de vida, sem no entanto mencionar diferentes intelecções, dizendo porem que algumas são intelecções e outras não o são de modo algum, porque eles absolutamente não investigam o que é a vida. Mas devemos assinalar que novamente a razão nos mostra que todos os entes são acessório da contemplação. Portanto, se a vida mais verdadeira é vida pela intelecção e esta será idêntica à intelecção mais verdadeira, a intelecção mais verdadeira vive e a contemplação e o objeto de contemplação correspondente são um vivente e uma vida e os dois juntos são um só.

Linhas 30-45: multiplicidade-na-unidade e totalidade: o intelecto é uma multiplicidade em unidade, porque é incapaz de contemplar o Uno como unidade; o intelecto é universal, é a soma da totalidade de todas as formas:

Então, se os dois são um, como este um é múltiplo? Porque aquilo que ele contempla não é um. E mesmo quando contempla o Uno, não o contempla como um; se não, não se torna intelecto. Principiado como um, ele não permaneceu como começou, mas não percebeu que ele mesmo havia se tornado múltiplo, como se estivesse bêbado, e se expandiu desejando possuir todas as coisas — quão melhor seria para ele não ter desejado isso, pois se tornou o segundo — e, havendo-se desdobrado como um círculo, tornou-se contorno e superfície e circunferência e centro e raios, uns acima, outros abaixo. Melhor é donde; pior, aonde. Pois o aonde não era tal qual o a partir de onde e aonde, nem o a partir de onde e aonde era como o a partir de onde apenas. Em outras palavras, o intelecto não é o intelecto de alguém, mas é universal e, sendo universal, é intelecto de todas as coisas. Como ele é todas as coisas e é de todas elas, também sua parte deve conter tudo e todas as coisas; caso contrário, terá uma parte sua que não é intelecto e ele será composto de não-intelectos e será uma aglomeração amontoada esperando para tornar-se um intelecto a partir de todas as coisas. Por isso ele é ilimitado também dessa forma, e se algo provém dele, ele não se enfraquece, nem o que provém dele, pois ele é todas as coisas, nem aquele de que ele próprio provém, pois ele não é um ajuntamento de partes.

 

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