Entre os diálogos de Platão, este ocupa uma posição particular: Sócrates não é o interlocutor principal, pois apenas entra na discussão. Além do mais, enquanto em outros diálogos onde intervém, Sócrates é tratado positivamente e com respeito, seu ensinamento se encontra aqui fortemente criticado.
Em uma conversa co teve com o orador Lísias, Clitofon, um homem político conhecido em Atenas, estabeleceu, um paralelo entre o comportamento de Sócrates e aquele do sofistas Trasímaco notando sua preferência por este último. Sócrates, informado de tal, demanda a Clitofon as razões de um tal julgamento, e Clitofon lhe reporta sua conversa com Lísias.
Clitofon não condena globalmente o comportamento de Sócrates. Louva suas exortações: Sócrates tem razão de criticar aos homens de não buscarem a virtude que só beneficia sua alma, e de confiar a direção de sua vida a pessoas que não sabem onde se fundamentar. Mas ‘s suficiente exortar? A que se deve referir para cultivar a virtude? À justiça, a resposta é unânime. Mas se se pergunta em que consiste a justiça, as respostas divergem. Nenhuma delas é aceitável. E mesmo se, de maneira mais sutil, define-se a justiça como o que permite estabelecer a amizade na cidade em vistas de produzir um acordo entre cidadãos, encontramo-nos remetidos a outra questão: um tal acordo faz intervir a ciência ou a opinião? É então que Sócrates dá sua posição: a justiça consiste em fazer mal a seus inimigos e bem a seus amigos (definição dada por Céfalo, depois defendida por seu filho Polemarco no primeiro livro da República). A discussão termina abruptamente: Clitofon demanda a Sócrates de lhe comunicar o saber que possui; se Sócrates não faz porque não quer comunicar seu saber ou simplesmente porque não possui tal saber, Clitofon se verá obrigado de ir ter com Trasímaco.
Desde Schleiermacher, a maioria dos comentadores consideram o Clitofon inautêntico. Mas uma minoria se opõe a este juízo, especialmente Simon Slings, que estabeleceu a nova edição da República publicada na coleção “Oxford Classical Texts”. Contra os argumentos em defesa da autenticidade, que considera o diálogo como uma autocrítica, além de incongruidades de forma e de fundo, nota-se que as críticas dirigidas a Sócrates já se encontram no primeiro livro da República. (Brisson, PLATON, OEUVRES COMPLÈTES)
Estrutura dada por Léon Robin à versão francesa da obra completa de Platão: PLATON : OEUVRES COMPLÈTES, TOME 2
- Prólogo
- Clitofon louva a beleza dos discursos de Sócrates
- O que falta nos discursos de Sócrates
- Epílogo