Damascio: Dos Primeiros Princípios

Excertos da apresentação de Marie-Claire Galpérine, de sua tradução anotada

Damascio, que viveu no século VI dC, é o último grande nome da história do pensamento grego. O TRATADO DOS PRIMEIROS PRINCÍPIOS é a obra mestre deste filósofo. Todas as aporias às quais se choca o pensamento quando se esforça em ascender aos princípios fundadores e, além do uno ele mesmo, até o absoluto indizível, são aqui colocadas com força singular. A aporia fundamental nasce da contradição implicada na noção mesmo de um princípio absoluto. E a grande questão é: como é possível que fora do uno, haja outra coisa? De onde vem que haja o plural e o diverso? O que Damascio gostaria de nos fazer entender, é este imenso rumor indistinto inicial que precede o concerto universal. Tentar se aí quando nada ainda é e que tudo se separa, é o supremos esforço do pensamento. Mas este sempre chega muito tarde e não alcança surpreender o momento da passagem.

Esta obra representa o último esforço do pensamento grego para tentar responder ao que foi para ele a questão filosófica por excelência: em quais condições o discurso é possível? E tudo se conclui por esta palavra: to ouden, o nada. O nada nos remete ao princípio indizível de tudo. O além do uno e o aquém da matéria designam os dois limites do movimento da alma. O universo do discurso se estende entre estes dois abismos. Há dois nadas como há dois silêncios: aquele de onde nasce a palavra e aquele que ela vem morrer quando nada mais há a dizer.