Damascius – Dos primeiros princípios I.2

(Damascius2010)

Este capítulo aborda as dificuldades apresentadas pelos limites que nossa atividade conceitual impõe à transcendência do Inefável. Damáscio estabeleceu que o primeiro princípio é transcendente e não está relacionado a todas as coisas, de modo que, paradoxalmente, o primeiro princípio não pode ser um primeiro princípio nem pode ser uma causa. No entanto, como nada pode ser a causa de si mesmo, nem os múltiplos podem funcionar como causas uns dos outros, sob o risco de a causalidade se tornar circular, o Uno é a única e exclusiva causa da multiplicidade. Portanto, Damáscio complementa sua crítica anterior à metafísica procliana ao aceitar a lógica da Proposição 1 dos Elementos de Teologia (ET), segundo a qual “toda multiplicidade de alguma forma participa da Unidade” (Dodds 1963, 3).

Ainda assim, o Inefável em si mesmo não pode ser concebido ou indicado. O único caminho para ele não é por meio de sua inclusão em um sistema filosófico, mas, ao contrário, por meio da negação completa e da remoção de toda multiplicidade. Talvez ainda mais surpreendente seja a ideia de que o Inefável só pode ser alcançado por meio do autoconhecimento. Aqui, pela primeira vez no tratado, Damáscio esboça um método de realização do Inefável como o centro do eu, por meio da remoção de tudo o que é diferente do Uno. Ele também aborda o tema da simplificação, de resolver a própria identidade de volta ao Uno. Uma das metáforas centrais que os neoplatônicos usam para discutir o estado da alma humana antes de sua iluminação está relacionada à experiência ‘titânica’ de divisão ou fragmentação; Damáscio usa o verbo μερίζειν (merízein) para transmitir esse tema. A metáfora da fragmentação está relacionada ao pensamento discursivo, que é incapaz de apreender o Uno em sua simplicidade, e também está ligada ao mito órfico que narra o sparagmos, ou fragmentação, de Dionísio, que simboliza a dispersão da unidade divina.

Damascio-I-§§4a6

Postagens em