A noção de didonai logon havia já sido encontrada, com uma ocorrência bastante frequente, no âmbito dos diálogos do primeiro período. Voltamos agora a encontrá-la, ainda com muita frequência, mas com um sentido mais determinado, no quadro dos diálogos do segundo e do terceiro períodos.
A sua emergência dá-se sempre no contexto de uma explicitação do saber, frequentemente associada ao tema das ideias e por vezes – é o que agora sublinhamos- ligada a um entendimento diferencial das ideias ou do seu saber.
Ora este entendimento, longe de alheio ao didonai logon, pode encontrar esclarecimento nesta noção mesma e, em particular, no logos que aí ocorre, se ele for interpretado tal como surge proposto na disputada definição que o Teeteto faz intervir, quando caracteriza o logos como «a diferença que distingue cada coisa das outras» (208d).
Que esta definição é platônica, embora possivelmente não da sua autoria, é o que pode indicar o testemunho aristotélico quando refere «aqueles que dizem que as ideias (tas ideas) são essências separadas e que, simultaneamente, a espécie (to eidos) é produzida a partir do gênero e das diferenças» (Metaph. Z, 14, 1039a25-27). E bem assim é o que parecem sugerir, adentro já do pensamento platônico, as passagens relevadas em nota, onde se faz surgir conjuntamente a ideia, o sentido diferenciador do saber da ideia e a noção de didonai logon.
Mas que a diferença é, pelo menos, um constituinte fundamental do logos, no seu sentido estrito, i. e., no sentido com que ocorre em didonai logon e, em geral, na discriminação da natureza do saber, é o que o próprio contexto do Teeteto deixa apreender.