Wilhelm Dilthey, História da Filosofia. Trad. Silveira Mello. Livraria Exposição do Livro, sem data.
III. A Filosofia ática. Idealismo de Sócrates e de Platão
3. Platão e a Velha Academia
a) Posição histórica de Platão.
Desta forma se fundou a análise do pensar e da linguagem, da retórica e da poesia, a análise do cosmo por meio, principalmente, da matemática e da astronomia nas escolas pitagórica (Hiketas, Filolau, Ecfanto) e atomista. Platão, no centro científico que era a Atenas de então, sistematizou o saber do seu tempo, que mostra pela primeira vez uma divisão em: dialética (descobrimento das ideias e das suas relações), física (construção dos cosmos da natureza, mediante as ideias) e ética (derivação dos princípios para estabelecer o cosmo da sociedade). Esta teoria das ideias encarna a especulação grega nacional mais genuína, aparentada pelo seu caráter com a arte grega, amigo do tipo e do módulo harmonioso e que na sua dedução, a partir da autognose, saiu vitoriosa em face dos atomistas. No momento culminante da especulação grega vemos que se coloca, junto à metafísica mecanicista de Demócrito, a idealista de Platão. Entre estes dois sistemas metafísicos o futuro tinha reservada a vitória ao de Demócrito, mas nesta altura não podia oferecer uma solução do problema; predominou na explicação da natureza o sistema platônico, com o relevo que atribuía às forças psíquicas e às entidades metafísicas, visto ser impossível, no estado da ciência de então, uma explicação mediante forças materiais.
b) Vida de Platão.
1. Anos da juventude e aprendizagem.
Nascido no ano 427 (o suposto dia de nascimento, 7 Thargelion, é mítico) em Atenas, de uma família aristocrática. Renunciou aos seus ensaios poéticos juvenis, por ter sido atraído para a filosofia pelo discípulo de Heráclito, Crátilo e uniu-se ao cortejo de Sócrates com vinte anos de idade (408-7). Até a morte de Sócrates foi o seu discípulo predileto (Mem. III, 6) Aristóteles Metaf., I, 6, conta-nos como surgiu a filosofia platônica. As investigações de Platão foram tiradas, na sua maior parte, dos ensinamentos pitagóricos, mas em alguns pontos desviaram-se deles. Familiarizado, desde a juventude, por Crátilo e seu ensino heraclitiano, com a ideia de que todo sensível se acha num fluir constante e que, portanto, é impossível conhecê-lo, manteve-se fiel a esta ideia por toda a vida. Mas, ao mesmo tempo, apossou-se da filosofia socrática que tratava de questões éticas com exclusão de toda a ciência da natureza, mas que não obstante, procurava naquelas o universal, e foi a primeira a trabalhar na determinação dos conceitos. Destarte, chegou a pensar que semelhante atividade tem que ver com algo distinto do sensível. Porque é impossível que as determinações conceituais tenham por objeto algo das coisas sensíveis, já que estas variam incessantemente. Chamou a esta classe de entes: ideias, mas afirmava que as coisas sensíveis existiam junto a elas, visto que eram as que lhes davam nome. Esta informação de Aristóteles não assinala mais que as circunstâncias externas que atuaram no nascimento do sistema platônico. O núcleo original do seu processo intelectual oculta-se por trás destas circunstâncias exteriores.
2. Anos de peregrinação. No processo que foi instaurado contra Sócrates, Platão era o fiador daquele. Depois da morte de Sócrates, transferiu-se para Mégara, onde se achava Euclides, em companhia de outros discípulos; como narra a tradição, foi até Cirene para conhecer o matemático Teodoro, esteve no Egito, Itália meridional (pitagóricos) e Sicília. Tendo aproximadamente quarenta anos de idade, travou amizade com Dião, na corte de Dionísio (a irmã daquela estava casada com este). Conta-se que Dionísio o tratou como a um prisioneiro de guerra, que foi vendido como escravo no mercado de Egina e em seguida comprado e libertado pelo cirenaico Aniceris.
3. Anos de ensino. Regressando a Atenas pelo ano 387, inaugurou a sua escola no ginásio Academia, estabelecido por Cimón e mais tarde comprou um jardim, para onde se mudou. A escola platônica (Academia) era uma sociedade de estatutos rigorosos, que possuía bens de raiz, tendo sido favorecida com vários legados e reunia-se em assembléia. Depois da organização pitagórica, representa a outra grande organização de trabalho em comum (cf. Usener, Preuss. Jahrb., 54 “Organi-zation wisenschaftlicher Arbeit”). O primeiro campo de investigação da escola foi, seguindo a inspiração de Sócrates e dos megarenses, a dialética, isto é, a análise do pensar ligado à linguagem, elaboração técnica dos conceitos e de suas relações, defesa contra os sofistas, contra Antístenes e outros (exemplos: os diálogos Parmênides e Sofista). Dessa forma, o raciocínio baseou-se nas ideias. O outro campo de investigação foi representado pela construção matemático-astronômica do cosmo.
A escola transformou-se na sede da matemática grega. Hankel, Zur Geschichte der Mathematik, 1874 ss., 127-150; “a combinação da inventiva filosófica e da matemática que encontramos, não apenas em Platão, mas igualmente em Pitágoras, Descartes e Leibniz, revelou-se sempre muito fecunda para a matemática; a Pitágoras devemos a ciência matemática em geral; Platão descobriu o método analítico, graças ao qual a matemática se elevou acima do ponto de vista dos elementos; Descartes fundou a geometria analítica e o nosso ilustre patrício, o cálculo infinitesimal; trata-se das quatro etapas marcantes no desenvolvimento das matemáticas”. Também já nessa época o famoso Eudoxo ingressou na Academia, por volta de 366. Em sua obra “acerca das velocidades”, resolveu o problema de reduzir as mudanças de posição que cada vez conhecemos com maior precisão, a movimentos circulares inteligíveis e perfeitos, socorrendo-nos para isso da construção de esferas concêntricas superpostas: a primeira mecânica celeste. Platão aceitava o suposto indiscutido de que todo movimento comunicado pelo choque acaba por si mesmo em repouso; por isso podia concluir, partindo destas relações constantemente regulares e harmônicas, a existência de um fundamento racional imaterial do cosmo (para mais pormenores v. Dilthey, I, 225-241).
É de supor que a atividade de Platão na Academia tenha sido interrompida duas vezes pelas visitas que fêz ao jovem Dionísio e a Dião. Mas sua expectativa de atuar no sentido do seu estado ideal ficou frustrada. Morreu aos oitenta anos, em 347.
c) Obras de Platão.
Coloca-se o problema de saber quais são, dos escritos que chegaram até nós com o seu nome, aqueles que realmente lhe pertencem e quais terão sido redigidos por outros, em sua escola ou fora dela. A nossa coleção abrange (fora sete diálogos cuja inautenticidade foi reconhecida na Antiguidade) 35 diálogos, as cartas e as definições. Pode-se afirmar que não nos falta nenhuma obra autêntica de Platão (Diógenes, III, 56 ss. Ordenação das obras principais de Platão em cinco trilogias por Aristófanes de Bizâncio e em nove tetralogias por Trasilo).
Exteriormente asseguradas, aparecem apenas as obras mencionadas por Aristóteles. 1) Citam-se a República, as Leis e Timeo, com o título da obra e o nome de Platão; igual certeza possuímos quanto ao Fédon e ao Banquete, graças ao título e a uma conexão que envolve a autoria de Platão. 2) Citam-se os títulos das obras, mas sem indicar a sua origem platônica: Fedro (a certeza aumenta porque a definição da alma que nele se acha se apresenta com o nome de Platão), Górgias (pela conexão da citação parece muito provável, já que Aristóteles fala de uma obra conhecida de Platão), Ménon (a certeza é menor porque se deve ao fato de nele se encontrar uma proposição tida por socrática). Hípicas Menor. 3) Aristóteles utiliza um diálogo platônico, sem mencionar o título: Filebo e Teeteto (plenamente seguros), Sofista (menos certo, exteriormente, mas muito provável, por causa da concordância das passagens e da elaboração do diálogo). 4) É bem provável a referência, ainda que não se nomeie Platão ou o título da obra, no caso da Apologia (que parece utilizada como boa fonte), o Político, (reforçado pela referência a êle nas Leis, e pela relação interna com o Sofista), o Protágoras e o Críton. A referência é mais incerta no que toca ao Cármides, ao Lísias e ao Laques, e ainda mais duvidosa pelo que diz respeito ao Crátilo e ao Hípias Maior. Fica evidente que Aristóteles nunca toma em conta o importante diálogo Parmênides, mas explica-se, porque a discussão histórica do que surgiu era para Aristóteles coisa passada.
Quando se agregou a crítica fundada em características internas, comprovou-se: 1) Fedro, Protágoras, Górgias, Teeteto, Banquete, Fédon, República, Timeo, Leis, diálogos em geral, reconhecidos como platônicos; Filebo, Crátilo e Crítias, objetos de menor significação.
2) Por outro lado, o acordo não é menos geral para serem postos de parte: Alcibíades II, Teages, Ante-rastes, Hiparco, Minos, Clitofón, Epinomis, as definições e as cartas, e também a maioria dos investigadores dão como apócrifos o primeiro Alcibíades, Ión e Menexeno. Os bibliotecários alexandrinos assinalam, segundo a tradição, o caráter duvidoso de Alcibíades II, Anterastes, Hiparco, Epinomis, Carta 12: daqui se infere que não aceitavam a responsabilidade da sua autenticidade para o fim de incluí-los na coleção platônica e, por causa do silêncio das nossas fontes, não podemos inferir a quais das peças da coleção se referia a sua dúvida.
3. São, portanto, duvidosos: a) os diálogos menores, importantes para conhecer a marcha do pensamento platônico, mas não para o conhecimento de seu sistema (exceto o Ménon, importante para a fundação da teoria das ideias); b) entre os maiores, o Parmênides, o Sofista e o Político. Uberweg, seguindo Socher, afirmou o Parmênides como apócrifo (Untersuchungen uber Echtheit und Zeitfolge platonischer Schriften, 1881, Jahrb. fur Philol., 1863, pp. 97 ss.). Com boas razões Schaarschmidt (Die Sammlung der Plat. Schriften, 1886), estendeu a dúvida ao Sofista e ao Político, ainda que seus ataques a Crátilo e ao Filebo sejam menos persuasivos. Certamente, Uberweg aceitou a princípio esta opinião; mais tarde, contudo, limitou sua negativa aos diálogos maiores Parmênides, Sofista e Político (cf. o seu Grundriss). Mas a compreensão filosófica do sentido destes diálogos para a defesa e o desenvolvimento dialético da teoria das ideias liquida todos os comentários. Especialmente, a não admissão do Parmênides e do Sofista obrigaria a pensar num Platão, o maior dialético da Antiguidade, inerme em face dos adversários da teoria das ideias, depois da sua luta vitoriosa contra os sofistas. As objeções mais fortes contra a obra que, em toda a Antiguidade agita mais profundamente os problemas metafísicos, o Parmênides, desaparecem tão logo a colocamos no último período de Platão. As dificuldades da teoria das ideias é provável que tenham sido muitas vezes debatidas na escola e é de crer que Aristóteles, após sua larga permanência na Academia, tivesse externado as suas reservas, com o que nós explicaríamos a discussão que destas objeções é feita no diálogo Parmênides.
d) Reconstrução da conexão entre as obras de Platão e a sua história evolutiva.
A compreensão, faz tempo perdida, dos diálogos platônicos, foi restaurada por meio do trabalho planejado por Schlegel e Schleier-macher, mas que este levou a cabo: Platos Werke (Ubersetzung mit Einleittungen uber Absicht und Cliederung der einzelnen Dialogue und Beziehungen zwischen ihnen. “Tradução com introduções sobre a intenção e articulação dos diversos diálogos e as relações entre eles”), 1804 ss., segunda edição, 1817, ss. (incompleta).
Schleiermacher teve Platão na conta de artista filósofo que trabalhou num todo os diálogos maiores, mediante indicações hoje reconhecíveis e, obedecendo a um plano que podemos perceber no seu primeiro diálogo maior, o Fedro. Estas obras escritas são, para Schleiermacher, a incarnação viva do modo de filosofar praticado na escola que, desde a primeira aparição dos princípios e mediante a análise metodicamente baseada neles, progride na sua exposição construtiva. Schleiermacher põe de parte a hipótese, sustentada antes dele, de que as obras de Platão são outros testemunhos do desenvolvimento interno do filósofo, em cujo transcorrer chegou a uma teoria das ideias. Segundo Schleiermacher, Platão cedo concebeu esta teoria e suas obras formam um sistema articulado que segue um plano didático. Seria a seguinte a sucessão de suas obras principais: I. Elementares: Fedro, Protágoras, Parmênides. II. As que se baseiam numa demonstração indireta: Teeteto, Sofista, Político, Fédon, Filebo. III. Construtivas: República, Timeo, Crítias. Obras de segunda plana no grupo II, entre outras Górgias, Crátilo, Banquete; no III, Leis. Nesta interpretação de Schleiermacher conclui-se que Platão, como filósofo, desejava expor, através dos diversos diálogos, a ligação de uma totalidade viva nele. Destarte, pôde Schleiermacher agrupar o Teeteto, o Sofista e o Político e, por outra parte, a República, o Timeo e o Crítias, e assinalar relações indiscutíveis entre os diálogos.
Mas os diálogos platônicos falam-nos primeiramente de um desenvolvimento do seu autor, pois que certo número deles, os chamados socráticos, se mantêm nos problemas e nos métodos socráticos, e não mostram marca alguma da teoria das ideias. Querer explicar isto por um propósito metódico, como tenta Schleiermacher, torna-se demasiado rebuscado. Notamos, por ex., que no Protágoras não se chegou a separar o bom do agradável e do útil, ainda que a distinção esteja já muito evidente no Górgias, etc. Finalmente, Aristóteles distingue o ensaio pitagórico do Platão senil e o do Platão anterior, e o Filebo e as Leis há que pô-los neste período. Temos, pois, um desenvolvimento filosófico de Platão mesmo no transcurso da sua atividade de escritor.
Foi esta circunstância que deu origem a uma segunda interpretação que não vê nas obras de Platão a não ser outros tantos documentos da sua história evolutiva e trata de ordená-los, por conseguinte, de acordo com este ponto de vista. Antes de Schleiermacher, colocara-se já Schlegel nesta posição. Após a aparição do Platão de Schleiermacher, os resultados da sua obra foram completados por K. Fr. Hermann, que, ao utilizar o método histórico-literário na sua Geschichte und System der Platon. Phil, I, 1839 (incompleto), seguiu a linha de Schlegel. Hermann assinala três etapas no desenvolvimento de Platão, condicionadas por influências externas: 1) Época em que prevalece a influência socrática, entre outros diálogos: Apologia, Críton, Górgias, Ménon. 2) Época megarense: Crátilo, Teeteto, Sofista, Político, Parmênides. 3) Época de maturidade: Fedro (programa com que se inaugura o ensino na Academia). Banquete, Fédon, República, Timeo, Crítias, Leis.
Junto a estes fatores externos, citados por Hermann, alguns filósofos, como Herbart, destacaram os fatores internos recolhidos em suas hipóteses filosóficas e que condicionaram o seu desenvolvimento. Uma razão especialmente eficaz no desenvolvimento de Platão é dada pela busca das relações lógicas da linguagem humana e a utilização metafísica de referidas relações.
Ambos os pontos de vista possuem a sua relativa justificação e por esta razão investigadores ulteriores, particularmente Zeller e Uberweg, combinaram-nos (contudo, Uberweg, Zeitschr. fur Phil., 1870, 2, pp. 72 ss. volta a dar predomínio à opinião de Schleiermacher). Podemos colocar com segurança o começo dos diálogos socráticos inspirados pela polêmica contra os sofistas; segue-se o período dominado pela teoria das ideias, onde os diálogos que servem de fundamento à teoria das ideias, Górgias, Ménon, Teeteto, Banquete, Crátilo, compõem uma unidade no seu desenrolar sistemático; sobre eles ergue-se a grande trilogia: República, Timeo, Crítias, que marcam o zênite do seu pensamento sistemático. Parmênides e o Sofista pertencem, provavelmente, ao último período de Platão e propugnam a teoria das ideias.
Mas também há que considerar os escritos de Platão segundo as suas relações com os predecessores literários e políticos, e ordená-los, assim, cronologicamente. Em primeiro lugar, a luta contra os sofistas; a partir do Fedro, a relação com Isócrates e a retórica, depois com outros socráticos, em especial com o importante adversário Antístenes; finalmente, a réplica às objeções e a discussão das modificações da sua doutrina, que despontam na própria escola, etc. Tudo isto condicionou sua atividade literária e por isso é justo pensar que a redação das suas obras estava determinada também por tais polêmicas. Mas se temos de agradecer a Hermann, Usener e outros filósofos que tenham destacado este aspecto da atividade literária de Platão, há que repudiar decididamente o intento de Teichmuller que, baseando-se nisso, procura obter um terceiro ponto de vista para a interpretação de Platão e julga que a sucessão das obras platônicas está determinada pelas circunstâncias polêmico-literárias (especialmente: Literarische Fehden im 4. Jahrundert, 1881, 4).
À investigação cronológica de detalhe servem estas séries de estudos: 1) relações internas dos diálogos entre si; 2) relações com obras de outros autores (por ex., Isócrates); 3) relação com acontecimentos da época; 4) mudança e desenvolvimento do próprio conteúdo filosófico; 5) características linguísticas e estilísticas (por ex., elisão do hiato, emprego de determinadas palavras). Uma vez que confluam todas estas séries de estudos, poderão ser resolvidas as questões essenciais ainda pendentes. Eis as mais importantes, entre as filosóficas: intento de extrair da República uma obra mais antiga; deslocação do Parmênides, do Sofista e do Político, para uma época mais remota e, igualmente, à sua correspondente polêmica filosófica.
Junto às obras citadas, é possível utilizar-se ainda para a bibliografia as seguintes: edição Henric. Stephanus, 1578 (as citações referem-se às páginas); Stallbaum, 1821 ss. Tradução latina de Ficinus, 1483 ss.; alemã, junto a de Schleiermacher, especialmente a de Muller-Steinhart, 1850 ss. Para explicações: Zeller, Studien, 1839, Bonitz, Studien, 2.a edição, 1875 (progresso importante em relação a Schleiermacher, no que se refere à demonstração empírica mais segura da articulação e ao propósito de cada diálogo). Grote, Plato 1865 (o seu ponto de vista crítico é excessivamente conservado) . A interpretação de Platão estabelecida por Schleiermacher (nas introduções aos diálogos que traduziu e em suas Lições de história da filosofia), na qual se fundamenta também a exposição de Zeller (II 1), não pôde ser desprezada por Lotze, por Teichmuller, em sua Geschichte der Begriffe e Die platonische Frage (1876) nem tampouco por Cohen, com o seu Platos Ideenlehre e a sua Mathematik, 1879.
e) A Velha Academia.
A direção da escola e a sociedade platônica passou, por falecimento do mestre, para seu sobrinho Espeusipo, e deste a Xenocrates da Calcedonia. A velha Academia (da qual se distinguem u’a média e uma nova ou, mais precisamente, as Academias 2, 3, 4 e 5), perdura desde a morte de Platão até Arquesilau (315-241/0 a. C).
Nos últimos anos de Platão, os estudos matemático-astronômicos da escola haviam provocado uma alteração na teoria das ideias, que a aproximava da teoria pitagórica dos números (notícias em Aristót. Met. I, 6, XIV, 1, e também no Filebo e nas Leis). Filipe de Opus, editor das Leis quando da morte do mestre e que é o autor do Epinomis (Bruns, Platos Gesetze von una nach, ihrer Herausgabe durch Philippus von Opus, 1880), considerava como o saber supremo matemático e astronômico. Heráclides do Ponto conheceu a rotação diária do eixo terrestre e o sentido, do oeste para este e o repouso, no céu, das estrelas fixas. As especulações de Espeusipo, Xenocrates e Eudóxio, acerca das ideias e dos números, proporcionaram tão pouca evidência que, quando o trabalho matemático-astronômico se transferiu para outros centros do saber, em particular Alexandria, readquiriu predomínio na Academia a dialética cética. Arquesilau foi quem deu este novo rumo com que teve início a Academia medial.
Platão, juntamente com os pitagóricos, exerceu influência em todo o desenvolvimento ulterior do espirito europeu como máxima expressão literária da doutrina genuinamente grega, da harmonia do cosmo, como da existência na consciência, independente de toda a experiência sensível, dos elementos que possibilitam a construção científica desta euritmia do cosmo.