====== Banquete 201d-212c: Discurso de Diotima ====== E a ti eu te deixarei agora; mas o discurso que sobre o Amor eu ouvi um dia, de uma mulher de Mantineia, Diotima, que nesse assunto era entendida e em muitos outros — foi ela que uma vez, porque os atenienses ofereceram sacrifícios para conjurar a peste, fez por dez anos recuar a doença, e era ela que me instruía nas questões de amor — o discurso então que me fez aquela mulher eu tentarei repetir—vos, a partir do que foi admitido por mim e por Agatão, com meus próprios recursos e como eu puder. É de fato preciso, Agatão, como tu indicaste, primeiro discorrer sobre o próprio Amor, quem é ele e qual a sua natureza e depois sobre as suas obras. Parece—me então que o mais fácil é proceder como outrora a estrangeira, que discorria interrogando—me, pois também eu quase que lhe dizia outras tantas coisas tais quais agora me diz Agatão, que era o Amor um grande deus, e era do que é belo; e ela me refutava, exatamente com estas palavras, com que eu estou refutando a este, que nem era belo segundo minha palavra, nem bom. E eu então: — Que dizes, ó Diotima? É feio então o Amor, e mau? E ela: — Não vais te calar? Acaso pensas que o que não for belo, é forçoso ser feio? — Exatamente. — E também se não for sábio é ignorante? Ou não percebeste que existe algo entre sabedoria e ignorância? — Que é? — O opinar certo, mesmo sem poder dar razão, não sabes, dizia-me ela, que nem é saber — pois o que é sem razão, como seria ciência? — nem é ignorância — pois o que atinge o ser, como seria ignorância? — e que é sem dúvida alguma coisa desse tipo a opinião certa, um intermediário entre entendimento e ignorância. — É verdade o que dizes, tornei-lhe. — Não fiques, portanto, forçando o que não é belo a ser feio, nem o que não é bom a ser mau. Assim também o Amor, porque tu mesmo admites que não é bom nem belo, nem por isso vás imaginar que ele deve ser feio e mau, mas sim algo que está, dizia ela, entre esses dois extremos.