====== Filebo 31e-32b — Prazer e dor sob seu aspecto físico ====== Protarco – Acho que te expressaste muito bem, Sócrates; mas tendemos dizer a mesma coisa por maneira ainda mais clara. Sócrates – Os fatos comezinhos e vulgares não são fáceis de entender? Protarco – Quais? Sócrates – A fome não é dissolução e dor? Protarco – Certo. Sócrates – Ao passo que o comer é repleção e prazer? Protarco – Sim. Sócrates – A sede, por sua vez, é destruição e dor, e o inverso: é prazer a atuação do úmido no ato de encher o que secou. Do mesmo modo, a desagregação e a dissolução contra a natureza, causadas em nós pelo calor, é sofrimento, como é prazer a volta ao estado natural e ao frescor. Protarco – Perfeitamente. Sócrates – Da mesma forma, a congelação contra a natureza que o frio opera nos humores do animal é sofrimento; mas, quando eles retornam ao seu estado natural e voltam a dissolver-se, esse processo conforme a natureza é prazer. Em uma palavra, vê se te parece razoável dizer que na classe dos seres vivos, formados, como declarei, da união do infinito com o finito, sempre que essa união vem a destruir-se, tal destruição é dor, e o contrário disso: em todos eles é prazer o caminho para sua própria natureza e conservação. Protarco – Vá que seja. Quer parecer-me, que, em tese, tudo isso é verdadeiro. Sócrates – Assentemos, pois, a primeira espécie de prazer e dor, oriunda dos dois Processos mencionados. Protarco- Está assentado.