====== Parmênides 162b-163b — O Uno contém o movimento e o repouso ====== Concebe-se que uma coisa em determinada circunstância possa mudar de condição sem alterar-se em nada? Não é possível. Tudo isso, pois, é indício de mudança, passar qualquer coisa de uma condição para outra. Como não? Mudança, porém, é movimento. Ou que diremos? Movimento. Mas o Uno se nos revelou como existente e como não existente. Certo. Por conseguinte, como estando e não estando em determinada condição. Parece. Como o Uno que não é, pareceu-nos também em movimento, visto passar do ser para o não-ser. É possível. Todavia, se não está em parte alguma, entre os seres, como não estará algures, se tiver de não ser, não poderá mudar de um lugar para o outro. Como o poderia? Não se move, pois, com trocar de lugar. Não, de fato. Como não gira no mesmo, por não ter nenhum contacto com o mesmo, pois o mesmo é existente, o que não existe não poderá estar no que existe. É impossível, realmente. Logo, o Uno que não é não pode girar naquilo em que ele não está. Sem dúvida. Como não sofre nenhuma alteração em si mesmo, nem o Uno que existe nem o que não existe; nossas reflexões deixariam de refletir-se ao Uno, se ele se mudasse noutro diferente dele mesmo, para referir-se a outra coisa. Certo. Ora, se ele não se modifica nem gira em torno do mesmo ponto nem passa de um lugar para outro, como, então, poderá movimentar-se? Não há jeito. Mas o que não se mexe do lugar, está em repouso, e o que está em repouso fica estacionário. Necessariamente. Logo, ao que parece, o Uno que não é se encontra simultaneamente parado e em movimento. Parece. Ademais, se se movimenta, é de toda a necessidade que se altere, pois quanto mais uma coisa se movimenta, tanto mais se distancia de sua primitiva condição, para assumir outra. Exato. Então, movimentando-se o Uno, modifica-se. Certo. Mas, se não se movimenta de maneira nenhuma, de nenhum jeito, também, se alterará. Não, realmente. Logo, pelo fato de movimentar-se o Uno que não é, modifica-se; se não se movimentasse, não se modificaria. Sem dúvida. Desse modo, o Uno que não é modifica-se e não se modifica. É evidente. Mas, não é de toda a necessidade que o que se altera fique diferente do que era antes deixe de existir em sua primeira condição, e que o que não se altera não se desenvolva nem pereça? Necessariamente. Logo, o Uno não existente nasce e parece, pelo fato de alterar-se; e por não alterar-se, nem nasce nem parece. Sem dúvida.