====== Sofista 248e- 249d: Movimento, vida, pensamento, propriedades do Ser ====== Estrangeiro – Mas, por Zeus! Como poderá ser tal coisa? Teremos de admitir, assim à ligeira, que de fato o movimento, a vida, a alma, o pensamento não participam verdadeiramente do ser absoluto, e que este nem vive nem pensa, mas, venerável, sagrado e privado de inteligência, permanece imóvel? Teeteto – Fora uma concessão um tanto dura, hóspede. Estrangeiro – Então, afirmaremos que é dotado de inteligência mas que não tem vida? Teeteto – Como fora possível? Estrangeiro – Ou diremos que é dotado desses dois atributos, porém não os possui na alma? Teeteto – De que modo, então, chegaria a possuí-los? Estrangeiro – Ou teremos de aceitar que o ser é dotado de inteligência, vida e alma, mas que, embora vivo, se conserva inteiramente imóvel? Teeteto – Isso agora se me afigura de todo em todo ilógico. Estrangeiro – Assim, teremos de considerar como seres tanto o que é movido como o próprio movimento? Teeteto – Como não? Estrangeiro – De onde vem, Teeteto, que se tudo for imóvel, ninguém poderá saber nada de nada. Teeteto – É mais do que claro. Estrangeiro – Por outro lado, se admitirmos que tudo se movimenta e se altera, por força desse mesmo argumento teremos de privar o ser de inteligência. Teeteto – Como assim? Estrangeiro – Podes conceber que sem estabilidade exista o idêntico a si mesmo, no mesmo estado e relativamente ao mesmo objeto? Teeteto – De jeito nenhum. Estrangeiro – E então? E sem essas condições, compreendes que a inteligência possa surgir ou existir em qualquer parte? Teeteto – Absolutamente não! Estrangeiro – Urge, pois, combater por todos os meios quem suprime, assim, o conhecimento, o pensamento e a inteligência, e ainda se abalança a afirmar alguma coisa. Teeteto – Sem dúvida. Estrangeiro – Logo; o filósofo que tem tudo isso na mais alta estima, tanto será obrigado a rejeitar, segundo creio, a doutrina dos adeptos do Uno juntamente com a dos sequazes do múltiplo, que proclama a imobilidade do todo universal, como a fazer ouvidos moucos para os que movimentam o ser em todos os sentidos, e, à maneira de crianças quando preferem as duas gulodices que lhes damos a escolher, afirmar simultaneamente ambas as coisas a respeito do ser e do todo: que é imóvel e que está em movimento. Teeteto – É muito certo.