====== Sofista 252d-253c: Segunda e terceira teses ====== Estrangeiro – E então? E se concedêssemos a todas as coisas a faculdade de se comunicarem entre si? Teeteto – Eis uma questão que eu sou capaz de resolver. Estrangeiro – De que jeito? Teeteto – Ora, porque o próprio movimento ficaria em repouso e o repouso se moveria, se ambos se reunissem. Estrangeiro – Porém é de todo em todo impossível parar o movimento ou movimentar-se o repouso. Teeteto – Sem dúvida. Estrangeiro – Só nos resta, pois, a outra alternativa. Teeteto – Certo. Estrangeiro! – Por força, uma das três terá de ser verdadeira: ou tudo se mistura, ou nada; ou ainda, algumas coisas o fazem, outras não. Teeteto – Sem dúvida. Estrangeiro – As duas primeiras já excluímos, por impossíveis. Teeteto – Realmente. Estrangeiro – Logo, quem quiser responder certo, terá de adotar a terceira. Teeteto – Perfeitamente. Estrangeiro – Mas, como algumas coisas desejam comunicar-se e outras se recusam a isso, comportam-se todas mais ou menos como as letras: umas não combinam em absoluto entre elas; outras ficam em perfeita consonância. Teeteto – É muito certo. Estrangeiro – As vogais, principalmente, se distinguem das demais letras por servirem de vinculo para as outras, de forma que, sem vogal, não é possível haver combinação entre as letras. Teeteto – Sim, é de todo impossível. Estrangeiro – E qualquer pessoa estará em condições de saber que as letras permitem combinações, ou haverá uma arte apropriada, a que terá de recorrer quem quiser proceder com acerto? Teeteto – Sim, uma arte. Estrangeiro – Qual, é? Teeteto – A gramática. Estrangeiro – Como! E o mesmo não acontece com os sons agudos e graves? Músico é quem conhece a arte de distinguir os sons que se combinam e os que destoam, sendo leigo na matéria quem nada entende de tudo isso. Teeteto – Certo. Estrangeiro – Igual distinção iremos encontrar nas demais artes, no que tange ao conhecimento ou à ignorância de seus princípios. Teeteto – Como não? Estrangeiro – E agora? Uma vez que já nos declaramos de acordo sobre se comportarem os gêneros de igual modo, no que diz respeito às combinações reciprocas, não será de toda a necessidade conhecer uma arte para orientar-se do começo ao fim do discurso quem quiser indicar os gêneros que combinam e os que se repelem? E mais: se há gêneros que atuam como elo de ligação para outros, permitindo que se misturem, e o contrário disso, na divisão, que sejam motivo de virem alguns a separar-se?