====== Sofista 254d-256d: Cinco gêneros primeiros irredutíveis. ====== Estrangeiro – Ora, os mais importantes gêneros entre os que acabamos de considerar são o próprio ser, o repouso e o movimento. Teeteto – Sem dúvida, da maior importância. Estrangeiro – Como diremos, também, que os dois últimos absolutamente não se misturam. Teeteto – De forma alguma. Estrangeiro – Porém o ser se mistura com ambos, pois, de uma forma ou de outra, ambos são. Teeteto – É evidente. Estrangeiro – Por conseguinte, serão três. Teeteto – Como não? Estrangeiro – Cada um deles, então, é diferente dos outros dois, porém igual a si mesmo. Teeteto – Certo. Estrangeiro – Mas, que enunciamos neste momento, com dizer Outro e Mesmo? Serão dois gêneros diferentes daqueles três, embora sempre e fatalmente misturados com eles, o que nos levaria a considerá-los como cinco, não três, ou com esse Mesmo e esse Outro, sem o percebermos, designamos um daqueles três gêneros? Teeteto – É possível. Estrangeiro – Contudo, repouso e movimento não são nem Outro nem Mesmo. Teeteto – Como assim? Estrangeiro – Seja o que for o que atribuímos em comum ao repouso e ao movimento, não terá de ser nenhum dos dois. Teeteto – Por quê? Estrangeiro – Porque o movimento ficaria em repouso e o repouso em movimento. Pois logo que um deles, não importa qual, se aplicasse aos dois, obrigaria o outro a mudar-se no contrário de sua natureza, visto participar do seu contrário. Teeteto – E evidente. Estrangeiro – No entanto, ambos participam do mesmo e do outro. Teeteto – Certo. Estrangeiro – Não digamos, então, que o movimento é o mesmo ou o outro; tampouco o repouso. Teeteto – Sim, abstenhamo-nos de afirmar tal coisa. Estrangeiro – Mas não teremos de conceber o ser e o mesmo como idênticos? Teeteto – É possível. Estrangeiro – Porém se o ser e o mesmo em nada diferem, ao dizermos do movimento e do repouso que ambos são, no mesmo passo afirmamos que são o mesmo. Teeteto – O que é absurdo! Estrangeiro – Logo, não é possível que o ser e a mesmo sejam um. Teeteto – Dificilmente. Estrangeiro – Assim, teremos de admitir uma quarta ideia, a do mesmo, ao lado das outras três. Teeteto – Perfeitamente. Estrangeiro Como! E o outro, não deverá também ser apresentado como uma quinta ideia? Ou teremos de considerá-lo, e também ao ser, como dois nomes para um único gênero? Teeteto – Quem sabe?