====== Enéada VI, 1, 16 — O agir e o padecer ====== – Mas se dissesse que o movimento é um ato inacabado, nada o impedia de colocar o ato em primeiro lugar, e de subordinar-lhe o movimento a título de espécie, na medida em que é um ato inacabado, ligando-o assim à categoria « ato » acrescentando « inacabado ». E se se diz dele que é « inacabado », não é tampouco porque não é ato; de fato, é totalmente ato, mas se renova de instante em instante, não para chegar a ser um ato, pois já é um ato, mas para produzir outra coisa que vem depois dele. E então, não é ele que é acabado, mas é o que ele tendia a realizar. Por exemplo, a caminhada é caminhada assim que é começada. Mas se alguém deve percorrer um estádio, e não percorreu ainda essa distância, o que resta a percorrer não pertence nem à caminhada nem ao movimento, mas ao fato de ter percorrido tantos passos. O que é certo é que é já uma caminhada e um movimento, qualquer que seja a extensão da progressão. É um fato que o homem em movimento se move já, assim como o homem que corta corta já. E assim como o que se chama ato não precisa de tempo, o mesmo ocorre com o movimento, exceto para o movimento que se prolonga até tal ponto. E se é verdade que o ato não se situa no tempo, o mesmo ocorre com o movimento, o movimento em geral. Se o pusessem inteiramente no tempo porque adquiriu o caráter da continuidade, então a visão, que não se interrompeu, deveria igualmente encontrar-se na continuidade e no tempo. E a prova disso se encontra na analogia que faz com que seja sempre possível tomar uma parte menor de movimento qualquer que seja, que não há um começo do tempo no qual e a partir do qual o tempo começaria, e que não há tampouco um começo do movimento em si, mas que é sempre possível dividi-lo retroativamente. Isso teria como resultado que um movimento que acabou de começar se produziria de fato desde um tempo ilimitado, e que o movimento em si em relação ao seu começo seria ilimitado. Chega-se a essa conclusão porque se distingue o ato do movimento, e se sustenta por um lado que o ato não nasce no tempo, e por outro lado que o movimento precisa de tempo, não apenas enquanto é de uma certa duração, mesmo que sejam forçados eles também a reconhecer que é por acidente que ele dura um dia, ou um lapso de tempo qualquer. Portanto, assim como o ato não se encontra no tempo, nada impede que o movimento também encontre sua origem no intemporal; é o fato de adquirir uma certa quantidade que explica que há tempo. Eles admitem também, de fato, que as mudanças, elas também, não nascem no tempo, quando dizem: « como se não houvesse mudança em bloco ». Se, portanto, é o caso para a mudança, por que não seria também para o movimento? Mas « mudança » foi tomado aqui não no sentido de « mudança acabada », pois não há mais necessidade de mudança, quando a mudança é acabada.