====== Enéada VI, 1, 4 – A quantidade ====== 4. — Segundo , a quantidade é por um lado o número, por outro toda grandeza contínua, como o lugar e o tempo. As outras quantidades reduzem-se a estas duas: o movimento por exemplo é uma quantidade porque o tempo é uma quantidade (embora talvez seja o contrário; o tempo obtém sua continuidade do movimento). Dirão que o contínuo enquanto tal é uma quantidade? Então o descontínuo não é quantidade. Se é por acidente que o contínuo é quantidade, o que é então o ser da quantidade, comum ao contínuo e ao descontínuo? Admitamos que o ser da quantidade pertença aos números (embora, chamando-os de quantidades, ainda não se veja a natureza que faz que assim se chamem). Mas a linha, a superfície e o sólido não recebem esse nome; chamam-se grandezas e não quantidades; só se acrescenta a palavra "quanto" quando reduzidos a um número: diz-se assim uma linha de duas ou três côvados; igualmente o corpo material torna-se uma quantidade, se medido por um número; igualmente o lugar não é quantidade como tal, mas por acidente; mas o que perguntamos não é a quantidade por acidente, é a quantidade em si mesma. Por exemplo não são três bois que designam uma quantidade, mas o número três que está neles; na expressão "três bois" há duas categorias. Igualmente numa linha de tal comprimento, ou numa superfície de tal dimensão, há duas categorias; sua dimensão é certamente uma quantidade, mas por que a superfície seria ela mesma uma quantidade? Só tem quantidade se limitada por três ou quatro linhas . O quê! Diremos que só os números são quantidades? Se se trata dos números em si, convém antes chamá-los substâncias, tanto mais que existem em si. Trata-se dos números que estão nas coisas que participam dos números em si, desses números que servem para contar não unidades mas por exemplo dez bois ou dez cavalos? Primeiro parecerá absurdo que esses números não sejam substâncias, se os números em si são substâncias. Além disso, se medem os objetos, como são partes integrantes deles? Por que não são exteriores a eles, como as réguas e outros instrumentos de medida? E por outro lado, se existem em si mesmos e não nos objetos a contar, se portanto esses objetos não são quantidades, pois não participam da quantidade, por que os números seriam eles mesmos quantidades? São certamente medidas; mas por que uma medida teria uma quantidade ou seria uma quantidade? É porque são seres, mas seres que não se enquadram em nenhuma outra das categorias, que se chamam quantidades e se alojam nessa categoria? Com efeito diz-se "um" designando um objeto, depois passa-se a outro, e o número informa quantos objetos há; assim a alma mede a pluralidade, servindo-se do número; ora, o que assim mede não é a quididade dos objetos; além disso, ao dizer um, dois etc., não considera nem as qualidades dos seres contados, que podem ser contrárias entre si, nem suas disposições, por exemplo se são quentes ou belos, mas apenas quantos há. Portanto não são os objetos enumerados, é o número mesmo (seja considerado em si mesmo ou nesses objetos) que pertence à categoria da quantidade; não é a linha de três côvados, é o número três. Quanto às grandezas, por que são também quantidades? É porque são próximas da quantidade, e porque chamamos quantidades os objetos nos quais está a quantidade? Não são quantidades no sentido próprio; mas chamamos grande um objeto cujas partes são numerosas, e pequeno um objeto cujas partes são poucas. E contudo estimam que o grande e o pequeno não são em si mesmos quantidades mas relativos; embora por outro lado os chamem relativos enquanto parecem ser quantidades. Há aí uma pesquisa a fazer mais exatamente. Não há portanto aí um gênero único; só os números são quantidades; as grandezas só o são secundariamente. O conjunto dos dois não forma propriamente um gênero único, mas uma categoria que contém, com as quantidades no sentido primitivo do termo, objetos que são vizinhos, mas que são quantidades em sentido derivado. Temos também que indagar em que sentido os números em si são substâncias, ou então também quantidades; qualquer partido que se tome, só têm em comum o nome com os números aritméticos.