====== imagem ====== Imagem/cópia (eidolon, eikasia, eikon) A relação entre modelo e cópia (original e imagem) é frequentemente aduzida nos diálogos como um modo exemplar de pensar a relação de participação entre os fenômenos individuais sensivelmente experienciáveis e a ideia intelectualmente cognoscível (o assim chamado paradigmatismo platônico; cf. Parm. 132c-d). As palavras gregas encontradas sob o significado “cópia, imagem” — eikôn (imagem), eidôlon (imagem, aparência), phantasma (aparência, aparição) e mimêma (imitação, cópia) — são fundamentalmente sinônimas (Sof. 241e; a delimitação terminológica entre eikôn, “imagem fiel”, e phantasma, “imagem enganosa”, em Sof. 236a-c permanece isolada e sem consequências). A palavra de Platão para “modelo” é paradeigma (Tim. 29b; Eutíf. 6e et passim), mas também muitas vezes a “imagem” tem como antítese “a verdade” (alêtheia, Banq. 215a etc.), “o verdadeiro” (alêthes, Banq. 212a; Rep. 533a etc.) ou “a coisa mesma” (auto, Sof. 266c etc.). Portanto, a imagem é, desde o início, concebida como algo que se desvia da verdade, algo não verdadeiro e, por conseguinte — por causa da equiparação platônica entre o verdadeiro e o ser real (ontôs on) —, como não-ser, o que produz para o conceito de imagem uma série de problemas ontológicos e epistemológicos. Além disso, imagem (eikôn) ou “exemplo” (paradeigma, sinônimo nessa acepção de eikon) é uma designação platônica para as alegorias dos diálogos (por exemplo, Rep. 515a, sobre a alegoria da caverna; cf. também semelhança, mimese, participação (methexis)). (SCHÄFER) //Excertos de P. Hadot, "Plotin ou la simplicité du regard"// Um dos discípulos de Plotino lhe demandou que aceitasse que se fizesse seu retrato. Ele recusou de pronto e não consentiu em posar. E explicou: Não basta portar esta imagem que a natureza nos revestiu? Ainda é preciso permitir deixar para trás uma imagem desta imagem, mais durável ainda que a primeira, como se se tratasse de uma coisa digna de ser vista? Perpetuar a imagem de um homem "qualquer", representar um indivíduo, não é arte. A única coisa que merece prender chamar nossa atenção, e de ser fixada em uma obra imortal, só pode ser a beleza de uma forma ideal. Se se esculpe a figura de um homem, que aí se reúna tudo que se pode encontrar de belo. Se se faz a estátua de um deus, que se faça como Fídias, escultando seu Zeus: Não tomou nenhum modelo sensível, mas o imaginou tal qual seria, se consentisse aparecer a nossos olhares. (Eneada-V, 8, 1)