====== praxis (Taminiaux) ====== //Taminiaux, Jacques (1995), Lectures de l'ontologie fondamentale. Jérôme Million, Paris.// (pg. 149-151) Colocarei em evidência em minha proposição as palavras de Aristóteles no início da //Política//: “//o de bios praxis ou poiesis estin//” (1254a). Estas palavras concernem a vida não no sentido da //zoe// mas no sentido do modo de ser ou de existir dos humanos (//bios//). Elas dizem: o modo de ser dos humanos não consiste em produzir mas em agir. Em grego, o verbo //poiein// e o substantivo //poiesis// designam uma atividade que trata das coisas preferivelmente que das pessoas, enquanto o verbo //prattein// e o substantivo //praxis// designam uma atividade que concerne a princípio os agentes eles mesmos. Não faltam testemunhos para atestar que a distinção entre estas duas atividades desempenhou um papel decisivo na maneira pela qual os gregos da //polis// consideravam a excelência de seu modo de existir comparado ao modo de vida dos bárbaros. A seus olhos, os bárbaros se assinalavam por uma carência profunda em matéria de //praxis//. No pior dos casos, o modo de ser dos bárbaros, pouco importa que tenham vivido na penúria ou na abundância, não superava em nada a imersão pura e simples no eterno retorno da vida, e a submissão ao jugo da necessidade natural. No melhor dos casos, o modo de ser dos bárbaros podia alcançar notáveis sucessos na ordem da //poiesis//, na produção de todos os tipos de obras que não têm equivalente natural e no saber-fazer inerente a esta produção, mas, no entanto, jamais aos olhos dos gregos da Cidade, os bárbaros alcançavam a excelência da //praxis//, o //eu prattein//. Para os gregos da Cidade, esta excelência, este //eu prattein// residiam na atividade mesma do cidadão, no //politeuein//, atividade que não associa um vivente ao ciclo eterno da vida, que não associa também um artesão a todos aspectos do fazimento de sua obra, mas que associa indivíduos a outros indivíduos no compartilhamento das palavras e dos atos que concernem seu estar-junto, e no exercício de todas as virtudes que este compartilhamento supõe: temperança, coragem, justiça, prudência (//phronesis//). Assim confundida com o exercício mesmo da cidadania, a //praxis// está intimamente ligada à palavra, à //lexis//, à declaração e à discussão por indivíduos preocupados com este mundo comum, do que lhes aparece deste mundo, das iniciativas renovadas que sua manutenção requer, das perspectivas diversificadas e opostas que acarreta. Assim entendida, a //praxis//, no sentido da Cidade não poderia ser separada de uma pluralidade de atores e de locutores, pluralidade à vida da qual a paridade, quer dizer ao mesmo tempo a amizade e a diferença, a //philia// e a //eris//, são igualmente indispensáveis. Para a Cidade, a //praxis// se sustentava portanto de uma estreita sinonímia entre os sintagmas //zoon politikon// e //zoon logon echon//. Porque estreitamente ligada à discussão de perspectivas diversas e cambiantes, esta //praxis//-aí requeria uma estrita paridade entre aqueles que a exerciam. Pela mesma razão, ela acarretava, na época da isonomia, uma desconfiança permanente a respeito daqueles que, se prevalecendo de uma competência superior, ameaçavam suprimir a cada cidadão o direito de julgar e de dizer seu julgamento, e além do mais ameaçavam, em se fazendo passar por especialistas em matéria pública, de modelar os humanos segundo seus planos, e de subordinar assim a //praxis// a uma forma de //poiesis//, subordinação que teria remetido o mundo grego ao nível dos bárbaros.