De modo geral, é, em todos os aspectos, o mais absurdo possível colocar a matéria antes de todas as coisas, ela que é apenas em potência, e não, por outro lado, colocar o ato antes da potência. Pois o que é em potência nunca poderá passar ao ato se o que é em potência detém o lugar de princípio entre os seres; certamente não é, de fato, o que é em potência que se fará passar a si mesmo ao ato: ou o que é em ato deve vir antes do que é em potência, e então o que é em potência não é mais princípio, ou se eles sustentassem que há simultaneidade, abandonariam ao acaso esses princípios. Além disso: se o que é em potência e o que é em ato são simultâneos, por que não dar o primeiro lugar ao que é em ato? E por que o que é em potência, a matéria, teria mais ser, e não o que é em ato? E se o que é em ato é posterior, como isso acontece? Pois certamente não é a matéria que engendra a forma, nem ela que, desprovida de qualidade, engendra a qualidade, e o ato também não vem do que é em potência, senão o que é em potência conteria em si o ser em ato, e não seria mais simples. Além disso, para eles, o deus vem em segundo lugar depois da matéria, pois é um corpo composto de matéria e de forma? De onde ele tira sua forma? Se ele possui a forma sem a matéria, porque se assemelha a um princípio e é uma razão, o deus será um incorpóreo e esse princípio ativo será incorpóreo. Mas se, mesmo sem a matéria, o deus é na realidade um composto, já que é um corpo, eles introduzirão outra matéria, a do deus. Além disso, como essa matéria poderá ser princípio, se é um corpo? Pois um corpo não pode não ser múltiplo. E todo corpo é composto de matéria e de qualidade. Mas se é em outro sentido que essa matéria é um corpo, é de maneira equívoca que eles chamam corpo a matéria. E se eles pretendem que o caráter comum a todo corpo é a tridimensionalidade, eles falam do corpo matemático. Mas se eles acrescentam a resistência à tridimensionalidade, eles falam de uma coisa que não é mais uma. Além disso, a resistência é algo qualificado ou pertence à categoria da qualidade. E de onde vem a resistência? E de onde vem a extensão tridimensional, ou antes quem produziu essa extensão? Pois a matéria não está mais contida na definição da extensão tridimensional, do que a tridimensionalidade está na da matéria. E desde que a matéria participa da grandeza, ela não é mais simples. Além disso, de onde vem a unificação? Essa unificação não é certamente a unificação em si, mas ela vem de uma participação na unificação. Eles deveriam ter pensado que não é possível colocar a massa antes de todo o resto, e que é preciso, ao contrário, colocar em primeiro lugar o que é desprovido de massa e que é um; começando pelo que é um, é preciso terminar pelo que é múltiplo, partindo do que é desprovido de grandeza é preciso ir para as grandezas, se é bem exato que não há vários quando não há o um, que não há grandeza quando não há o que é desprovido de grandeza, isto é, se é bem exato que a grandeza é uma, não por si mesma, mas porque participa da unidade e se combina a ela. É preciso, portanto, que o que existe primitivamente e principalmente venha antes do que existe apenas por combinação. Teria sido melhor perguntar como pode haver combinação e pesquisar de que maneira a combinação pode se produzir: talvez eles teriam então descoberto o um que não é um por acidente. Chamo um por acidente o que é um não por si mesmo, mas por causa de outra coisa.