Enéada VI, 2, 20 — Os gêneros primeiros e suas espécies: o Intelecto universal e os intelectos particulares

Consideremos, pois, que há um intelecto que não tem nenhum contato com as coisas particulares e que não exerce sua atividade sobre tal ou qual coisa, para evitar que se torne um intelecto particular, como é o caso da ciência antes que apareçam suas espécies particulares e da ciência de uma certa espécie antes que apareçam as partes que ela comporta. A ciência em sua totalidade não é nenhuma de suas espécies, mas é a potência de todas. E cada espécie de ciência é em ato o que é, enquanto é em potência todas as suas partes, e o mesmo ocorre com a ciência em geral. As ciências que pertencem a uma espécie e que se encontram em potência na ciência total, porque, é claro, elas apreendem apenas um conteúdo específico, são em potência a ciência total. Pois a ciência total é afirmada da ciência particular, sem que a ciência particular seja uma parte da ciência total; é evidente que esta última deve permanecer pura e independente. Assim, é preciso dizer que o Intelecto total, aquele que é anterior aos intelectos particulares em ato, existe de uma certa forma, e que os intelectos particulares existem de outra forma; há de um lado os intelectos particulares que, mesmo que sejam partes, constituem um todo completo, e de outro o Intelecto que, dominando-os a todos, fornece aos intelectos particulares o que eles têm. Ele é sua potência e os contém em sua universalidade, enquanto eles, por sua vez, é em sua particularidade que contêm o Intelecto universal, assim como uma ciência particular contém a ciência. É preciso também dizer que esse grande Intelecto existe por si mesmo, assim como, aliás, os intelectos particulares que se encontram em si mesmos, e que, por sua vez, os intelectos particulares estão compreendidos no todo e que o todo está compreendido nas partes. Em outras palavras, os intelectos particulares existem por si mesmos e se encontram em outro, enquanto o grande Intelecto existe por si mesmo e se encontra nos intelectos particulares. Todos esses intelectos particulares estão em potência no Intelecto total, que está em si mesmo e que é em ato todas as coisas juntas, e em potência cada intelecto particular separadamente, enquanto os intelectos particulares são em ato o que são, e em potência Intelecto total. Pois na medida em que são o que se diz que são, são em ato o que se diz que são; mas enquanto estão no Intelecto total como em um gênero, é em potência que o são, enquanto Ele, inversamente, enquanto gênero, é potência de todas as espécies que lhe são subordinadas, mas não é em ato nenhuma delas, e todas, em definitivo, permanecem tranquilas nele. Enquanto ele é em ato o que é antes de suas espécies, ele faz parte dos seres que não são particulares. Se os intelectos que são suas espécies devem existir em ato, é preciso, é claro, que a atividade que vem do Intelecto total seja a causa.