Se desejamos conhecer a natureza do corpo, perguntando-nos em que consiste a natureza do próprio corpo neste mundo, depois de ter compreendido que em tal ou qual parte deste universo – uma pedra, por exemplo – há o que pode ser considerado seu substrato e o que, por outro lado, pode ser considerado sua quantidade, como sua grandeza e como sua qualidade – por exemplo, sua cor –, não devemos dizer também que, no caso de qualquer outro corpo, há, em sua natureza de corpo, o que pode ser chamado realidade, quantidade e qualidade, que são todos juntos, mas que podem ser distinguidos pela razão em três gêneros, e que esses três gêneros formam um único e mesmo corpo? Mas se o movimento também faz naturalmente parte da constituição desse corpo, e o contamos com os outros, então esses quatro gêneros formarão um, e esse corpo que é um estará suspenso, no que diz respeito à sua unidade e à sua natureza, a todos eles. Da mesma maneira, é claro, quando a discussão versa sobre a realidade inteligível e sobre os gêneros e os princípios de lá, é preciso suprimir não apenas o devir que está nos corpos e o conhecimento que se obtém por meio da sensação, mas também a grandeza – pois é assim que os corpos são distintos e que permanecem separados uns dos outros –, para se apegar a uma existência inteligível, considerando-a como sendo verdadeiramente e como tendo mais unidade. O que é surpreendente, no inteligível, é a maneira como o que é um dessa forma é um e vários. Pois, no caso dos corpos, admitiu-se que o mesmo corpo é ao mesmo tempo um e vários, e que pode ser dividido ao infinito, uma vez que sua cor é uma coisa e sua figura é outra, e que são coisas separadas. Mas se se tomasse por objeto uma alma, que é única, sem dimensão, sem grandeza, absolutamente simples, tal como apareceria à primeira vista em sua apreensão pela razão discursiva, como se poderia ainda esperar finalmente descobrir nela várias coisas? Certamente, estimava-se poder parar na unidade da alma, quando se dividia o vivente em corpo e alma, e se descobria o corpo multiforme, composto e variado, porque se estava bem certo de ter descoberto que a alma era simples e que se pensava poder parar ali nossa marcha porque se havia atingido o princípio. Consideremos, portanto, essa alma, que apreendemos no «lugar inteligível», como antes havíamos apreendido o corpo no sensível, e perguntemo-nos como esse um é várias coisas e como essas coisas que são várias são unas, não como uma unidade composta a partir de várias coisas, mas como uma natureza única que é várias coisas. Pois uma vez que isso tiver sido compreendido e se tornar claro, a verdade concerning os gêneros do ser se tornará clara, como dissemos.