Estas representações mitológicas não são, pois, inventadas, não são fruto de invenções poéticas, mas são representações essenciais, necessárias, para a consciência humana, dentro de sua história espiritual. Por isto, estas representações eram vistas como objetivas, ou seja, independentes do pensamento e da vontade humanas. As representações não eram imaginárias, mas eram potências reais, teogônicas, que operavam na natureza e na consciência humana. “Os deuses gregos não têm carne nem sangue como os homens reais, são como seres da pura imaginação, e, no entanto, para a consciência, têm o mais real significado, são seres reais, porque derivam de um processo real. Todo aspecto animal desapareceu; estes deuses são seres absolutamente similares ao homem, ainda que estejam por sobre a humanidade; eles representam na história do processo mitológico aquele momento da história da natureza no qual o princípio da natureza, depois da terrível luta no reino dos animais, morre no homem de uma morte doce, fascinante, verdadeiramente divinizante – por assim dizer, a morte da reconciliação por toda a natureza –; somente no homem, de fato, a inteira natureza é reconciliada”… “A mitologia grega é a morte doce, a verdadeira eutanásia do princípio real, que no seu sucumbir e desaparecer, deixa no seu lugar, ainda, um mundo belo e maravilhoso de fenômenos”… “Os deuses gregos surgem da consciência liberada do domínio do princípio real de modo doce e regular, como uma espécie de formas ou visões beatas, nas quais aquele – o princípio real – desaparece também certamente, mas ainda coopera, no seu desaparecer e desagregar-se, para dar às formas que surgem aquela realidade, aquela determinação que fazem dos deuses gregos os representantes de momentos (conceitos) necessários, eternos, duradouros, e não somente passageiros”.