Impressões

Plotino (BPT38-41)

Como dizemos que as sensações não são nem impressões nem marcas gravadas na alma, evitaremos dizer, consequentemente, que as lembranças consistem em reter conhecimentos e sensações graças à persistência de sua impressão na alma, impressão que não estava presente inicialmente. Pois esses dois pontos pertenceriam ao mesmo argumento: ou a impressão chega à alma e permanece nela, para que nos lembremos; ou não se concede um desses dois pontos, e o outro também não, não importa qual. Quanto a nós, que certamente não admitimos nenhum dos dois, necessariamente teremos que investigar de que maneira ambas essas atividades se realizam, já que não dizemos que a impressão do sensível chega à alma e lhe imprime sua marca, nem explicamos a lembrança pela persistência interna da impressão.

No entanto, se observarmos o que ocorre no caso da sensação mais clara, provavelmente descobriremos também o que buscamos, transferindo a mesma observação para as outras sensações. Ora, é evidente que, praticamente em todos os casos, quando vemos algo, seja o que for, nós o vemos à distância e dirigimos nossa atenção visual para onde está localizado, em linha reta, o objeto visível; que é claramente ali que a percepção ocorre e que a alma olha para fora, já que, em minha opinião, nenhuma impressão se encontra ou chega a ela, nem ela capta uma marca semelhante à de um selo na cera. Pois ela não teria nenhuma necessidade de olhar para fora, se já tivesse em si mesma a forma do que é visto, já que estaria olhando para a impressão vinda de lá e que entrou nela. Além disso, como a alma claramente atribui uma distância ao que vê e diz a que distância vê esse objeto, como poderia considerar distante o que, nela, de modo algum está separado dela? Além disso, como poderia avaliar o tamanho de um objeto, tamanho que está fora da alma, ou como poderia dizer que ele é grande, como o do céu, já que é impossível que uma impressão tão grande esteja dentro da alma? Mas eis o mais importante de tudo: se de fato captássemos impressões do que vemos, não seria possível ver exatamente o que vemos, mas apenas imagens e sombras dos objetos vistos, de modo que as próprias coisas seriam diferentes daquelas que vemos. De modo geral, assim como se diz que não é possível ver um objeto visível quando ele está colocado contra a pupila, e é necessário afastá-lo para vê-lo, da mesma forma é ainda mais necessário transferir essa afirmação para o caso da alma. Se, de fato, colocássemos nela a impressão do objeto visível, aquilo em que essa impressão gravasse sua marca não poderia ver o objeto que deveria ver. Pois é necessário, além disso, que o que vê e o que é visto sejam duas coisas distintas. Portanto, o que vê deve ser diferente da impressão, impressão que ele vê situada em outro lugar, e não em si mesmo. Logo, a visão deve se dirigir, não a algo que está na alma, mas a algo que não está nela, para que haja visão.