O primeiro impulso (horme) do ser vivo tem em vista conservar a si mesmo, pois a natureza desde o início o tornou familiar (oikeios vem de oikos, casa ou família) a si mesmo (oikeiouses autoi tes physeos ap’arches), conforme afirma Crisipo no primeiro livro do tratado Sobre os fins, afirmando que, para todo ser vivo, a primeira coisa familiar (proton oikeion) é sua constituição (syntasin) e a consciência (syneidesin, mas no texto de Crisipo deveria ler-se com verossimilhança synaisthesin, “con-sensação” ou “con-sentimento”) que tem dela. Não seria verossímil, realmente, que um ser vivo possa tornar-se estranho a si (allotriosai) nem que a natureza que o gerou possa torná-lo estranho e não familiar a si. Portanto, não se pode deixar de afirmar que, ao constituí-lo, a natureza o tornou familiar a si mesmo (oikeiosai pros heauto). Por isso ele está propenso a rejeitar aquilo que o prejudica e a buscar aquilo que lhe é familiar (ta oikeia). (AGAMBEN, Giorgio. O Uso dos Corpos. Homo Sacer IV,2. São Paulo, Boitempo, 2017)
LÉXICO: ; v. economia, hábito