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Porfírio recomenda estas quatro atitudes, que soam um tanto cristãs, à sua esposa Marcela no contexto da oração: fé, esperança, amor apaixonado (eros) e verdade. Essas atitudes vêm do texto teúrgico Oráculos Caldeus (F. 45-8 Des Places, tradução inglesa de Ruth Majercik) e aparecem no mesmo contexto em Jâmblico, na passagem sobre oração logo após as linhas recém-citadas. Também observamos as três primeiras em Teologia Platônica de Proclo, 1.25, no contexto da teurgia (ver 18(b) acima), onde um capítulo inteiro é dedicado a elas. Proclo acrescenta que a fé é superior ao conhecimento. Sob a influência dos Oráculos Caldeus, o comentário de Proclo sobre o Primeiro Alcibíades transforma as três primeiras em entidades metafísicas, e os teurgistas são aconselhados a se unirem a Deus por meio dessa tríade. A esperança é acrescentada não apenas por Porfírio e Jâmblico, mas também por Proclo em Timaeus 3.212,21-3 e por Simplício em Phys. 5,20, sendo dada importância em Leis de Platão 732C-D. Proclo cita a importância da confiança na sociedade em Leis de Platão 630C e 730C, e poderia ter acrescentado a fé nos deuses, 966C. Para Simplício, essas atitudes são recomendadas ao estudante de física.
Hoffmann aponta que Simplício encontra a ideia de fé em Aristóteles, quando Aristóteles diz em Sobre os Céus 1.2, 269b13, que, com base em seus argumentos (syllogizomenos), pode-se ter fé (pisteuein) na existência de um quinto elemento celeste, e 2.1, 283b26-284a2, que se pode ter fé (pistis, sympeithein heauton) na eternidade do universo e na crença tradicional nisso, tanto pelos argumentos de Aristóteles quanto pelo fracasso das explicações rivais, em Cael. 55,3-24; 370,3-16. Na última passagem, Simplício afirma que, após suas provas (apodeixeis), Aristóteles cita a crença tradicional, assim como Platão expõe mitos, para fortalecer a convicção (pistis).
Robin Lane Fox chamou minha atenção para Solilóquios de Agostinho 4.9-12 (CSEL 89, pp. 15-21), que rejeita o tipo de conhecimento de Deus disponível para Platão, Plotino e os estoicos, insistindo em vez disso que o conhecimento necessário envolve fé, esperança e caridade (fides, spes, caritas). Ele teria encontrado esse requisito se já conhecesse o Porfírio relevante, exceto pelo fato de que não emula o uso de Porfírio da palavra para amor apaixonado (eros em grego – Proclo usa philia).
Plotino explica como funciona a oração comum. Os dons não são concedidos conscientemente (por proairesis) (da mesma forma que em 4.4 40 (27)), mas por meio da simpatia entre as partes do universo vivo, embora a comunhão do místico com o Um também seja reconhecida em 5.1 6 como uma espécie de oração. Iamblichus responde às preocupações de Porfírio (como os seres intelectuais ouviriam nossa fala, e a petição não seria estranha a eles?). Então, conforme relatado por Proclus, ele rejeita o apelo de Plotino à simpatia e oferece uma teoria superior característica de que, quando somos criados pelos deuses, eles deixam uma marca de afiliação (symbolon ou synthema oikeiotetos) às suas próprias identidades em nossas almas, e essa marca atrai a boa vontade dos deuses e nos permite retornar a eles. A oração nos une a essas marcas. Mas Jâmblico Myst. 5.26 distingue três níveis de oração que nos proporcionam contato, comunhão ou unificação com Deus. Proclus também descreve essas marcas como essenciais para a reversão e para a teurgia, em Crat. sec. 71, traduzido acima em Teurgia. Ele também descreve como cada coisa adora de acordo com sua própria capacidade e até mesmo uma planta, o heliotrópio, pode adorar.
Uma objeção epicurista, segundo a qual a oração precisaria ser precedida por uma regressão infinita de orações, é respondida por Porfírio e Proclo, este último apelando para a graça divina que nos permite orar. Compare com a graça preveniente de Agostinho, Sobre a Natureza e a Graça 31,35.
Jâmblico e Proclo focam na oração como meio de nos conduzir a Deus. Mas Jâmblico também reconhece orações para favores mundanos. Da mesma forma, em Mistérios 5.17, ele reconhece que podemos obter favores relacionados à falha na colheita, esterilidade e propriedade. Mas seu argumento era que isso não se realizava por meio de sacrifícios aos deuses imateriais, mas sim por um ritual envolvendo objetos materiais e dirigido a seres abaixo dos deuses imateriais.
Uma questão diferente sobre a oração por favores, que não podemos fazer Deus mudar sua vontade, é abordada pelo cristão Orígenes, em Sobre a Oração 5-6. Sua resposta é que Deus deseja imutavelmente que, se orarmos, haverá tal e tal resposta. Agostinho e Filopono sobre Deus desejar imutavelmente que algo comece.