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Poimandres 24-26

Escatologia

  • Dissolução do composto humano

Na morte

O corpo é largado à alteração

  • A forma visível desaparece.
  • O caráter moral, doravante inativo, é largado ao demônio.
  • Os sentidos corporais remontam para se confundir com suas fontes, as energias.
  • O irascível (thymos) e o concupiscível se voltam para a natureza sem razão.
  • Subida através dos círculos planetários

A alma humana ascende então e alcança cada uma das sete zonas, como correspondentes vestimentas: os acidentes e as paixões que se revestiu na sua descida.

  • Divinização da alma, meta última da gnose

A alma, doravante nua, alcança então a oitava natureza (Ogdoada).

  • Ela entra no coro dos Poderes (superiores à Ogdoada); ela mesma se tornando Poder.
  • Ela entra em Deus e se torna Deus, o que é o fim da gnose.

24 “Ensinaste-me bem todas as coisas, como eu o desejava, oh! Noûs. Mas fala-me ainda da ascensão, tal como ela se produz.” A isto Poimandres respondeu: “Agora, na dissolução do corpo material, deixas esse corpo entregue à alteração, e a forma que eras deixa de ser percebida, e abandonas ao demônio teu eu doravante inativo 1), e os sentidos corporais remontam a suas fontes respectivas, das quais tornam-se partes e são novamente misturados com as energias 2), enquanto que o irascível e o concupiscente vão para a natureza sem razão.

25 E desta maneira o ser humano se eleva para o alto através da armadura das esferas e à primeira zona abandona a potência, de crescer e de decrescer, à segunda as tramas da malícia, engano além de tudo sem efeito; na terceira a ilusão do desejo, a partir de agora, torna-se sem efeito; na quarta a ostentação do comando é desprovida de seus objetivos ambiciosos; à Quinta, abandona-se a audácia ímpia e a temeridade presunçosa; à sexta os apetites ilícitos que dá a riqueza, doravante sem efeito; na sétima zona desaparece a mentira que prepara siladas 3).

26 Então desnudo do que havia produzido a armadura das esferas, entra na natureza ogdoádica, possuindo apenas sua própria potência; e canta com os Seres hinos ao Pai, e toda a assistência se rejubila com ele pela sua vinda. E tornado semelhante a seus companheiros, ouve ainda certas Potências que assistem sobre a natureza ogdoádica, cantando, com uma voz doce, hinos a Deus. E então, em boa ordem, sobem para o Pai, abandonando-se às potências, e, tornando-se potências, entram em Deus. E, agora, porque tardas? Não vais agora que herdastes de mim toda a doutrina, fazer-te guia daqueles que são dignos, a fim de que, o gênero humano, graças a tua intervenção, seja salvo por Deus?”

1)
O demônio é aqui sem dúvida o daimon pessoal de cada homem. Há algo que faz lembrar Heráclito.
2)
Sem dúvida as Energias astrais.
3)
Encontra-se uma série análoga de sete vícios (mas menos associadas às esferas) em Irineu de Lião (I,29,4): agnoia, authadia, kakia, zelos, phthonos, erinnys, epithymia. Notar agnoia na cabeça (acoplada, é verdade, com a authadia): todos os outros vícios derivam da Ignorância.
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