Cor (Filopono)
Philoponus in De Anima, tr. Sorabji
As atividades (energeiai) estão sempre no ar sem afetá-lo (apathos) e não atuam sobre nós, exceto quando os objetos da percepção estão na linha direta de visão, assim como, segundo , a visão não atinge a coisa vista, a menos que esteja diretamente alinhada com ela.
Por que, se as atividades dos visíveis estão no ar, não vemos até mesmo o que está atrás de nós? Pois, se o ar possui as atividades da cor em todas as partes, como se revela pelo fato de que observadores de todas as direções veem a mesma cor – por exemplo, seja A uma cor e ao seu redor haja vários observadores B, C, D, E, F e G, então todos eles observarão a cor, de modo que claramente as atividades da cor estão em todas as partes do ar –, se isso é assim, por que, afinal, não vemos também o que está atrás de nós?
O filósofo respondeu a essa que as atividades (energeiai) não viajam até nossos olhos, mas que, de modo geral, todo o ar está preenchido com todos os objetos de visão. Mas isso é ainda mais problemático e estranho. Pois, primeiro, o problema original permanece: se todo o ar está igualmente cheio de exibições (emphaseis) dos objetos de visão, como julgamos distâncias? Pois coisas próximas e muito distantes deveriam parecer iguais. Mesmo as coisas mais distantes não deveriam escapar aos nossos sentidos, se, de fato, todo o ar está cheio de todas as exibições. Talvez ele pudesse responder que nossa hipótese sobre as atividades é a mesma que a deles sobre o deslocamento da visão: assim como eles dizem que a visão enfraquece quando se estende muito longe e que é por isso que não vemos coisas distantes, nós dizemos que as atividades enfraquecem quando percorrem uma grande distância. Mas o que ele pode dizer sobre a próxima questão? Se todo o ar está cheio de exibições, que utilidade há em assumir a ideia de que as atividades se movem em linhas retas? Deveríamos, antes, ver as coisas, incluindo as próximas e, de fato, tudo o que somos capazes de ver, em qualquer direção que olharmos, uma vez que o ar está cheio de exibições. Então por que não vemos os céus e todas as coisas visíveis sem olhar para eles? No entanto, podemos invocar fatos evidentes em apoio à visão aristotélica .
. Pois vemos que, quando um feixe de luz solar passa através de um vidro colorido de vermelho ou outra cor similar, o ar permanece inalterado (apathes) e permite a passagem da cor e do contorno do vidro, até que eles entrem em contato com um corpo sólido, e então a cor e o contorno do vidro finalmente marcam (enapomattesthai) esse sólido. É realmente notável ver: pois, se se olhar para o ar através do qual o feixe passa, se verá que ele permanece inalterado pela cor e pelo contorno do vidro, mas a cor e o contorno são vistos no corpo sólido onde o feixe termina. E não se deve explicar isso por um reflexo da visão ao atingir esse ponto, pois esse tipo de coisa acontece não apenas em superfícies lisas, mas também em lã, se for onde o feixe incide, ou em um manto, ou na areia, ou em qualquer coisa, mesmo quando sua visão está arbitrariamente situada, de modo que não poderia haver reflexão dessa superfície para o vidro. Isso deixa claro que as atividades daquilo que vemos realmente passam pelo ar sem afetá-lo (apathos), chegam ao órgão sensorial e, como este é um corpo sólido, imprimem (entupoun) nele as cores e formas das coisas vistas. Assim, o órgão é afetado (paskhein) por elas, e a discriminação delas passa para a faculdade sensorial.
. Mas pode-se responder que não encontramos o mesmo fenômeno no caso do que vemos como no caso de nosso modelo. Pois o fenômeno descrito não ocorre a menos que um feixe incida sobre algo após passar pelo vidro, enquanto vemos coisas mesmo quando nenhum feixe incide diretamente sobre elas vindo do sol. Além disso, no caso do vidro, há uma aparência (phantasia) de cor em qualquer coisa sobre a qual o feixe incida, enquanto nada desse tipo aparece no caso das coisas que vemos. Pois, evidentemente, elas não atuam sobre outros corpos, mesmo que um feixe passe através delas. Assim, o que ocorre no caso do modelo é diferente da atividade daquilo que vemos e, de modo geral, da nossa apreensão disso.
