antiguidade:medio_e_neoplatonismo:porfirio:teurgia-porfirio

Teurgia (Porfírio)

Porfírio, De Regressu Animae, com comentários de Agostinho, Cidade de Deus 10.9, tr. Gillian Clark

Porfírio também, embora hesitante e com uma discussão quase envergonhada, promete uma certa quase purificação da alma pela teurgia, mas nega que essa arte possa oferecer a alguém o retorno a Deus. Assim, se pode ver que ele oscila, com opiniões alternadas, entre o vício da curiosidade sacrílega (curiositas) e a profissão da filosofia. Em um momento, ele adverte que essa arte deve ser evitada por ser enganosa, perigosa no uso e proibida pelas leis; em outro, como se cedendo aos seus defensores, ele diz que ela é útil para purificar parte da alma, não a parte intelectual que compreende a verdade dos inteligíveis que não têm semelhança com os corpos, mas a parte pneumática (spiritalis), que recebe as imagens (imagines = grego phantasiai) das coisas corpóreas. Para esta parte, diz ele, por certas consagrações teúrgicas que eles chamam de teletai (ritos), ela é tornada adequada e apta para receber espíritos e anjos e para ver deuses. Mas ele reconhece que desses ritos teúrgicos nenhuma purificação alcança a alma intelectual para torná-la apta a ver seu Deus e a perceber o que realmente existe. A partir disso, pode-se entender que visão dos deuses ele diz que é alcançada pela consagração teúrgica (theurgicus), uma visão na qual não se vê o que realmente existe. Finalmente, ele diz que a alma racional ou, como ele prefere chamá-la, a alma intelectual pode escapar para si mesma, mesmo que sua parte pneumática não tenha sido purificada por nenhuma arte teúrgica.

aprendeu isso não com Platão, mas com seus mestres caldeus, a fim de exaltar os vícios humanos às alturas etéreas ou empíricas do universo e dos firmamentos celestes, e permitir que seus deuses anunciem mensagens divinas aos teurgos (theurgi). Porém, se coloca acima dessas coisas divinas em virtude do modo de vida intelectual, com base no argumento evidente de que, como filósofo, as purificações pela arte teúrgica não são de forma alguma necessárias. Mas para os outros introduz essas purificações, a fim de dar aos seus mestres a recompensa, por assim dizer, de seduzir aqueles que não podem filosofar para práticas que confessa lhe serem inúteis, uma vez que é capaz de coisas mais elevadas. Isso é evidente para que aqueles que estão distantes da excelência filosófica, que é muito árdua e apenas para poucos, possam, com a sua autoridade, procurar pessoas teúrgicas para purificá-los, não em suas almas intelectuais, mas pelo menos em suas almas pneumáticas. O resultado é que, como o número daqueles que são repelidos pela filosofia é incomparavelmente maior, mais pessoas são forçadas a procurar seus mestres secretos e ilícitos do que as escolas platônicas.

No entanto, você reconhece a Graça (gratia), já que diz que é concedida (concessum) a poucos alcançar Deus pela força do seu intelecto. Você não diz “poucos decidiram” ou “poucos quiseram”. Quando você diz que é concedido, você está sem dúvida reconhecendo a Graça de Deus. Você até usa essa palavra abertamente, quando segue a opinião de Platão e não tem dúvida de que, nesta vida, os seres humanos não alcançam de forma alguma a perfeição da sabedoria, mas que, após esta vida, tudo o que falta pode ser suprido àqueles que vivem de acordo com o intelecto, de acordo com a Providência de Deus e a Graça.

/home/mccastro/public_html/platonismo/data/pages/antiguidade/medio_e_neoplatonismo/porfirio/teurgia-porfirio.txt · Last modified: by 127.0.0.1