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Percepção (Simplicius)

Simplicius in De Anima, tr. Carlos Steel

poder”]. Ele quer dizer claramente “ da faculdade da percepção sensorial”, porque o objeto sensível, que é individual e externo, deve estar disponível e não deve estar apenas lá, mas também presente à faculdade da percepção sensorial, para que possa agir de alguma forma sobre o órgão sensorial e sobre o seu ser agido, a alma perceptiva possa projetar (proballomene) os conceitos comuns (logoi) dentro dela das coisas sensíveis de uma maneira apropriada ao efeito (pathos) e reconhecer (gnorizein) o objeto sensível através de sua própria atividade, estando em um estado de acordo com a forma (eidos) do objeto sensível.

Pois a percepção abrange indivisivelmente o início, o meio e o fim do objeto sensorial, e é uma atividade, sendo um julgamento perfeito (krisis) e permanecendo imóvel como um todo no instante em que se apresenta a forma (eidos) do objeto sensível. Essa forma não é imposta como um selo sobre cera (o que não é próprio da vida), nem se aprofunda (muito menos permanece imóvel com uma atividade cognitiva), mas é projetada (proballomenon) a partir de dentro pelo conceito de objetos sensíveis que é pré-concebido (proeilemmenos logos) na alma. (Não é a alma que dá vida ao órgão como órgão, mas aquilo que o utiliza quando já está vivo, de modo que, transcendendo o corpo, pode agir indivisivelmente e ter conhecimento dos objetos sensíveis.) O conceito é único, mas não de acordo com a unidade contratada nas coisas individuais, mas como adequado a cada uma delas de maneira apropriada, de acordo com a unidade formal que abrange causalmente todos os indivíduos. Pois a alma percebe (aisthanesthai) todas as coisas brancas particulares de acordo com esse único conceito; pois o que julga (krinein) é a alma através do contato apropriado daquilo que é conhecido, e é apropriado porque a alma tem em sua substância uma pré-concepção (prolepsis) da mesma propriedade . Portanto, a alma se torna como seus objetos sensíveis, não por receber algo deles, mas por ser ativa de acordo com o conceito apropriado a eles. Agora que isso foi determinado de maneira geral para todas as percepções sensoriais, devemos prosseguir para o que se segue.

Pois a visão não está relacionada ao tamanho enquanto visão, mas à cor: em ato quando permanece imóvel em sua forma ao ver, e antes disso caracterizada pela potencialidade, não sendo aperfeiçoada apenas por si mesma e de dentro, nem apenas externamente pelo objeto sensível, mas sim pelo órgão sensorial sendo afetado por aquilo de maneira semelhante ao que o afeta; mas o órgão sensorial é afetado de maneira vital e seu ser afetado termina em atividade formal quando a alma sensitiva reconhece (gnorizein) o objeto sensível pela projeção de conceitos (probole logon) e permanece imóvel em sua forma.

Mas, enquanto toda cognição (gnosis) atual é definida pela forma de seu objeto, não sendo afetada por ele, mas sendo ativa, e ativa não de maneira criativa, mas com julgamento (kritikos) e compreensão (synetikos), as outras atividades cognitivas obtêm sua perfeição de seu próprio ser e projetam (proballesthai) por si mesmas a forma (eidos) de seu objeto, mas a percepção requer também o objeto percebido que está fora para projetar ativamente a forma daquele objeto. É por isso que se diz que ela está sujeita à afeição e receptiva a formas que, por assim dizer, entram de outro lugar, e que é aperfeiçoada por outras coisas. Um indicativo disso é o fato de que, sendo a forma mais baixa , a percepção sensorial deve utilizar um órgão, e de tal maneira que nem é forte o suficiente para ser autossuficiente em seu uso, nem possui um órgão suficiente para a vida que o utiliza, mas um que precisa primeiro ser afetado de alguma forma pelo objeto perceptível, sendo a atividade vital simultaneamente despertada pelo efeito externo (peisis). Assim, o órgão, sendo um corpo, tem na vida da percepção uma atividade que é afetiva, mas o sentido que o utiliza é ativo sem ser afetado, projetando de dentro os conceitos (logous proballein) dos objetos percebidos em correspondência (symmetros) com a atividade afetiva do órgão, pelos (kata) quais conceitos, como foi dito, ele compreende e julga ativamente (syniesi kai kritikos energei). Consequentemente, diz-se que ele é receptivo a formas e que é afetado pelo que tem cor, sabor ou som porque seu órgão precisa ser afetado por esses, tendo recebido uma aparência das formas neles. Pois, assim como a atividade no agente é semelhante à forma que é produzida, o efeito de acordo com as formas esclarece o parentesco com o agente; e, pela aparência da forma que entra no órgão sensorial por meio da agência do objeto perceptível, não apenas a vida no se torna ativa, mas também a vida que o utiliza projeta sua atividade de julgamento (kritike) pura segundo os conceitos que são afins à atividade afetiva no órgão sensorial; , uma vez que não é afetada nem recebe as formas do exterior. Pois a cognição (gnosis) vem de dentro, e assim também o estado correspondente ao objeto do conhecimento. Mas o sentido é dito ser afetado e tornar-se a forma porque o órgão sensorial recebe as aparências formais do exterior, e não sem atividade; pois ele recebe as formas sem matéria; já que todo objeto perceptível não é uma forma, mas é informado.

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