Banquete 193d-194e: Intermédio
Eis, Erixímaco, disse ele, o meu discurso sobre o Amor, diferente do teu. Conforme eu te pedi, não faças comédia dele, a fim de que possamos ouvir também os restantes, que dirá cada um deles, ou antes cada um dos dois; pois restam Agatão e Sócrates.“
— Bem, eu te obedecerei — tornou-lhe Erixímaco; — e com efeito teu discurso foi para mim de um agradável teor. E se por mim mesmo eu não soubesse que Sócrates e Agatão são terríveis nas questões do amor, muito temeria que sentissem falta de argumentos, pelo muito e variado que se disse; de fato porém eu confio neles.
Sócrates então disse: — É que foi bela, ó Erixímaco, tua competição! Se porém ficasses na situação em que agora estou, ou melhor, em que estarei, depois que Agatão tiver falado, bem grande seria o teu temor, e em tudo por tudo estarias como eu agora.
— Enfeitiçar é o que me queres, ó Sócrates, disse-lhe Agatão, a fim de que eu me alvoroce com a ideia de que o público está em grande expectativa de que eu vá falar bem.
— Desmemoriado eu seria, Agatão — tornou-lhe Sócrates — se depois de ver tua coragem e sobranceria, quando subias no estrado com os atores e encaraste de frente uma tão numerosa plateia, no momento em que ias apresentar uma peça tua, sem de modo algum te teres abalado, fosse eu agora imaginar que tu te alvoroçarias por causa de nós, tão poucos.
— O quê, Sócrates! — exclamou Agatão; — não me julgas sem dúvida tão cheio de teatro que ignore que, a quem tem juízo, poucos sensatos são mais temíveis que uma multidão insensata!
— Realmente eu não faria bem, Agatão — tornou-lhe Sócrates — se a teu respeito pensasse eu em alguma deselegância; ao contrário, bem sei que, se te encontrasses com pessoas que considerasses sábias, mais te preocuparias com elas do que com a multidão. No entanto, é de temer que estas não sejamos nós — pois nós estávamos lá e éramos da multidão — mas se fosse com outros que te encontrasses, com sábios, sem dúvida tu te envergonharias deles, se pensasses estar talvez cometendo algum ato que fosse vergonhoso; senão, que dizes?
— É verdade o que dizes — respondeu-lhe.
— E da multidão não te envergonharias, se pensasses estar fazendo algo vergonhoso?
E eis que Fedro, disse Aristodemo, interrompeu e exclamou: — Meu caro Agatão, se responderes a Sócrates, nada mais lhe importará do programa, como quer que ande e o que quer que resulte, contanto que ele tenha com quem dialogue, sobretudo se é com um belo. Eu por mim é sem dúvida com prazer que ouço Sócrates a conversar, mas é me forçoso cuidar do elogio ao Amor e recolher de cada um de vós o seu discurso; pague então cada um o que deve ao deus e assim já pode conversar.
— Muito bem, Fedro! exclamou Agatão — nada me impede de falar, pois com Sócrates depois eu poderei ainda conversar muitas vezes.
