Parmênides 155e-157b: Terceira hipótese. O Uno é e não é: muda no instante...
Consideremos o assunto sob novo aspecto, o terceiro. Se o uno é tal como o descrevemos: um e múltiplo, e também nem um nem múltiplo, além de participar do tempo, não será de toda a necessidade que haja um momento em que ele, como Uno, participe do ser, e outro momento em que, por não ser Uno, deixe de participar?
Necessariamente.
E ser-lhe-á possível não participar no momento em que participa, ou então participar quando não participa?
Não é possível.
Num determinado tempo, então, ele participa, e noutro, diferente do primeiro, não participa. É a única maneira de participar e não participar da mesma coisa.
Certo.
Então, terá de haver um tempo em que ele toma parte do ser e outro em que deixa de tomar. Pois, como seria possível participar e não participar da existência sem um instante determinado em que ele comece a existir e outro em que para de existir?
Não há jeito.
Começar a existir não é o que denominamos nascer?
Sem dúvida.
E deixar de existir, não é parecer?
Isso também.
O Uno, por conseguinte, como parece, começando a existir e deixando de existir, nasce e morre.
Necessariamente.
Mas, por ser ele Uno e múltiplo não significa para ele, necessariamente, combinar e separar-se?
Sem a menor dúvida.
E tornar-se semelhante e dissemelhante, não é assimilar e desassimilar?
Sim.
E tornar-se maior, menor ou igual, não será crescer, decrescer ou igualar-se?
Isso mesmo.
Mas, parar quando em movimento, ou passar da imobilidade para o movimento, só poderá fazê-lo se não se encontrar num determinado tempo.
Como assim?
Passar do repouso para o movimente ou mover-se primeiro para depois imobilizar-se, é o que não pode ocorrer sem mudança,
Como seria possível?
Por outro lado, não há um determinado tempo que a mesma coisa pode estar em repouso e em movimento.
Sem dúvida.
Mas, existirá essa coisa estranha em que se diz que ele está quando muda de posição?
Que coisa?
O Instante. O vocábulo Instante parece significar algo assim como o ponto da mudança em direções opostas. Sim, não será da imobilidade, enquanto imóvel, que ele se mudará, nem do estado de movimento, como tal. Essa coisa de natureza inapreensível, o Instante, se encontra situada entre o movimento e o repouso, sem estar em nenhum tempo, sendo que a transição converge para ele e dele parte, da coisa em repouso para o movimento e do movimento para o repouso.
É possível.
Sendo assim, dado que o Uno esteja em repouso e em movimento, terá de mudar-se, na passagem de um desses estados para o outro, pois somente em tais condições chegará a fazer ambas as coisas. Mas, ao mudar-se, muda instantaneamente, e no instante preciso da mudança não poderá estar em nenhum tempo, muito menos em movimento ou em repouso.
Sem dúvida.
O mesmo ocorre com as outras mudanças, quando passa da existência para a morte ou da não existência para o nascimento, encontrando-se num estado intermediário entre certas formas de movimento e de repouso, de sorte que nessa ocasião nem é existente nem não-existente, nem nasce nem morre.
Parece que é assim mesmo.
Pelas mesmas razões, passando do Uno para o múltiplo para o Uno, não será nem uma nem múltiplo, nem se combina nem se desagrega. Assim, também, na passagem do semelhante para o dissemelhante ou na do dissemelhante para o semelhante, não é nem semelhante nem dissemelhante, como não se acha no estado de assimilação nem no de desassimilação. O mesmo se passa na transição de pequeno para o grande e o igual, e na de sentido contrário: não poderá ser nem pequeno nem grande nem igual, como não estará crescendo nem decrescendo nem ficando igual.
Parece mesmo que não.
Eis tudo o que pode acontecer com o Uno, no caso de existir.
Sem dúvida.
