Enéada I, 3 (20) 4 – Definição de dialética.
– Que é, então, a dialética que se deve ensinar também ao músico e ao amante? – É, sem dúvida, a disposição que torna capaz de exprimir, por um discurso concernente a cada coisa, o que ela é, em que ela difere das outras e o que ela tem em comum com elas; em que e onde se situa cada uma delas, e se ela é o que é; e quantos são os seres, e quantos, ao contrário, são os não-seres que diferem dos seres. A dialética trata do que é bom e do que não é bom, ela determina quantas coisas se enquadram sob o bem, quantas sob o seu contrário, ela se interessa também pelo que é eterno e pelo que não o é, por meio de uma ciência que trata de todas as coisas e não por meio de uma opinião. Depois de ter parado suas errâncias no sensível, ela se estabelece no inteligível onde, lá, ela exerce sua atividade, tendo afastado o erro e nutrindo sua alma na «planície da verdade», recorrendo ao método de divisão de Platão, utilizando-o, por um lado, para distinguir as formas, utilizando-o, por outro lado, para determinar o que é cada coisa, por outro lado ainda para chegar aos gêneros primeiros, combinando graças ao intelecto as coisas que daí provêm até que ela tenha percorrido a totalidade do inteligível; depois, ao contrário, recorrendo à análise ela volta ao princípio. Então ela permanece em repouso,1 pois ela está em repouso enquanto está lá, ela não se preocupa mais com nada e, tendo chegado à unidade, ela pode contemplar. Ela abandona a outra técnica esse estudo que se chama lógica das proposições e dos silogismos , como se faz quando se trata de aprender a ler e a escrever. Ela considera que, entre eles, alguns elementos são necessários e anteriores a toda técnica, e ela julga uns e outros, estimando que há entre eles elementos que são úteis e que há outros que são supérfluos e capazes de pertencer a um método que deseje se ocupar deles.
