Enéada VI, 1, 2 – A realidade
Perguntemos, pois, de novo: Deve-se pensar que são gêneros? E como pode a substância ser um só gênero? Porque é preciso começar, decididamente, pela substância. Ora, é impossível que seja um só gênero, o da substância, comum à inteligível e à sensível; algo distinto, predicado de ambas, que não seria nem corpo nem incorpóreo; caso contrário, ou o corpo seria incorpóreo ou o incorpóreo corpo. Mais ainda, com respeito às próprias substâncias do mundo sensível, é preciso indagar o que há de comum à matéria, à forma e ao composto de ambas. Porque dizem que todas estas coisas são substâncias, e que, no entanto, não têm igual direito a sê-lo, dado que a forma se diz ser mais substância que a matéria. E têm razão. Mas haverá outros que dirão que a matéria o é mais. Por outro lado, as chamadas “substâncias primeiras” o que podem ter em comum com as “segundas”, dado que as segundas recebem das primeiras sua denominação de “substâncias”? E, em geral, é impossível dizer em que consiste a substância, pois não porque se dê conta da propriedade da substância, já se captou sua quididade. Talvez, nem sequer o de que é “uma só coisa e a mesma numericamente, suscetível dos contrários”, convenha a todas as substâncias.
